SÃO PAULO (Reuters) – O Credit Suisse aumentou sua estimativa para a alta dos preços ao consumidor no Brasil neste ano e disse que os riscos a suas perspectivas –que já projetam inflação bem acima do teto da meta, de 5%– estão inclinados para uma pressão ainda maior.

O banco privado suíço espera agora que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerre 2022 com alta acumulada de 6,2%, ante previsão anterior de 6,0%.

Isso deixaria a inflação acima do objetivo do Banco Central, de 3,5% para este ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, pelo segundo ano consecutivo, depois que o IPCA subiu 10,06% em 2021.

O centro da meta para o ano passado era de 3,75%, também com margem de tolerância de 1,5 ponto.

“Os riscos para nossa previsão permanecem inclinados para cima, já que o processo de desinflação no país tem sido, historicamente, muito longo e desafiador, requerindo uma combinação de apreciação cambial, ancoragem das expectativas de inflação e aumento na folga da economia”, escreveram em relatório Solange Srour, economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, e Lucas Vilela, economista.

A revisão do credor suíço veio após leitura mais alta do que o esperado para o IPCA-15, considerado prévia do IPCA, divulgada nesta quarta-feira pelo IBGE. O índice teve alta de 0,58% em janeiro –abaixo da taxa de 0,78% de dezembro, mas acima da expectativa mostrada em pesquisa Reuters com economistas, de 0,43%.

Os dados de mais cedo “continuam mostrando uma dinâmica altamente preocupante para a inflação” no Brasil, disseram os especialistas do Credit Suisse.

“A inflação elevada entre os serviços tem sido impulsionada por dois fatores que não devem recuar no curto prazo: a reabertura da economia e inércia. Esta… afetará diretamente os preços do aluguel e taxas, salários e energia e, indiretamente, os preços de cursos educacionais, comida fora de casa, serviços pessoais e outros.”

Segundo o Credit Suisse, um risco que pode significar inflação mais baixa do que as projeções atuais seria uma possível redução nos impostos federais sobre combustíveis e eletricidade, por meio da PEC que já está sendo elaborada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro.

A PEC teria “potencial de reduzir a inflação medida pelo IPCA em 0,9 ponto percentual, mas representa forte risco fiscal para as já frágeis contas públicas” do Brasil, disseram Srour e Vilela.

Em relação ao impacto da inflação na conduta da política monetária, o Credit Suisse afirmou que o Banco Central “não terá muito espaço para desacelerar seu ritmo de aperto monetário ao longo dos próximos meses”.

O banco privado manteve expectativas de que a taxa Selic –atualmente em 9,25% ao ano– será elevada em 1,5 ponto percentual em fevereiro, 1 ponto em março e 0,5 ponto em maio, chegando a 12,25%.

(Por Luana Maria Benedito)

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