A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um estudo nesta segunda, 5, em que mostra que 93% dos países do mundo interromperam serviços de saúde mental durante a pandemia de covid-19, incluindo o Brasil. Segundo a entidade, a pandemia multiplicou as necessidades nesse campo e os transtornos mentais também têm um impacto muito negativo na produtividade das economias. O estudo da OMS é o resultado de uma avaliação em 130 países sobre os efeitos da nova doença no acesso a esses serviços.

Os confinamentos forçados (em alguns países durante vários meses) e o consequente isolamento, além do medo que o coronavírus tem causado na população, principalmente entre os grupos de maior risco, a morte de um ente querido e a perda de rendimentos são situações que agravaram a carga emocional da quarentena.

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Na pesquisa, a OMS lembrou que a saúde mental é a área que menos recebe recursos dos orçamentos da saúde, com uma média inferior a 2%, apesar de as necessidades só aumentarem. Antes da covid-19, a perda de produtividade por depressão e ansiedade entre os trabalhadores já era estimada em US$ 1 trilhão anualmente.

A avaliação da organização revela que em 60% dos países foram interrompidos os cuidados na área da saúde mental para as pessoas mais vulneráveis, incluindo crianças, adolescentes, idosos e mulheres grávidas ou puérperas.

Em uma porcentagem superior (67%), houve paralisação dos serviços de terapia e psicoterapia e em 65% os programas de tratamento da dependência de opiáceos deixaram de funcionar. Em um terço dos casos, os países interromperam as intervenções de emergência, incluindo aquelas para pessoas com convulsões prolongadas, delírios ou síndromes de abstinência.

Segundo a OMS, todos os países das Américas que responderam à pesquisa tiveram um ou mais serviços de saúde mental interrompidos no período.

Para o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo da Silva, houve um “erro” nessa forma de agir no Brasil, principalmente por parte dos municípios e governos estaduais. “Há um estigma muito grande em relação aos doentes mentais, ficando esses pacientes relegados a uma medicina de segunda categoria. Fecharam ambulatórios e os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), uma irresponsabilidade dos sistemas de atendimento que tem nos Estados e municípios, não podendo fazer isso”, falou.

O professor de psiquiatria da Unisa e presidente do Departamento Científico de Psiquiatria da Associação Paulista de Medicina (APM), Kalil Duailibi, explicou que o “medo” do contágio por coronavírus fez com que muitos serviços fossem desativados por um bom tempo, e isso fez com que muitos pacientes do serviço público ficassem desassistidos.

“No serviço privado, quem tinha algum problema conseguiu fazer terapia online, atendimento com seu médico, psiquiatra, recebeu a receita digital. Já quando eu vou para o serviço público, eu não posso fazer a consulta online, a gente não tem essa estrutura”, disse Duailibi. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.