A pandemia do novo coronavírus castiga duramente a América Latina, que superou o milhão de casos de COVID-19, mas dá uma trégua na Europa, que mantinha nesta segunda-feira (1) alguma normalidade.

Quatro dos dez países com o maior número de infecções diárias são latino-americanos: Brasil, Peru, Chile e México, informou Michael Ryan, diretor de emergências sanitárias da Organização Mundial da Saúde (OMS), durante coletiva de imprensa virtual em Genebra.

“Precisamos nos dedicar a apoiar especialmente a América Central e a América do Sul em sua resposta”, declarou Ryan, que alertou para a instabilidade da situação em vários países, com “um alto aumento dos casos” e uma crescente pressão sobre os sistemas de saúde.

“Não acho que tenhamos alcançado o pico dos contágios e, por enquanto, não posso prever quando será alcançado”, acrescentou.

O epicentro regional é o Brasil que, com 514.849 casos, é o segundo país em número de contágios em todo o mundo, atrás dos Estados Unidos.

Combinada à pandemia, o país de 210 milhões de habitantes vive uma grande tensão política, pois o presidente Jair Bolsonaro se opõe ao confinamento decretado por vários prefeitos e governadores, apesar de o coronavírus já ter deixado mais de 29.000 mortos.

O México, com 120 milhões de habitantes, tem mais de 90.000 casos declarados e se aproxima dos 10.000 mortos.

O Peru, com 33 milhões de habitantes, registra 4.600 óbitos e é o segundo país latino-americano com mais casos de COVID-19, com mais de 170.000 infectados.

O Chile, por sua vez, superou os 1.100 mortos e os 100.000 casos.

– Sem óbitos na Espanha –

Este panorama sombrio contrasta com o que ocorre na Europa, onde foram registrados 178.080 falecidos e mais de 2,1 milhões de contágios, mas a situação começa a se normalizar.

Nas últimas 24 horas, a Espanha (que acumula 27.127 óbitos) não registrou nenhuma morte por COVID-19 nas últimas 24 horas. Segundo o diretor do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências Sanitárias, Fernando Simón, este é “um dado muito, muito favorável”.

Embora as viagens entre os países permaneçam inabilitadas, os locais turísticos mais importantes voltaram a abrir na Europa. Nesta segunda foi a vez do Museu Guggenheim em Bilbao (norte da Espanha), do Grande Bazar de Istambul com suas 3.000 lojas e 30.000 comerciantes, e o Coliseu de Roma, iluminado para a ocasião com as cores da bandeira da Itália.

O imponente anfiteatro da Roma antiga recebeu cerca de 300 pessoas que tinham feito reservas online, um número muito inferior aos 20.000 turistas diários que o monumento costumava receber.

“Aproveitamos a ausência de turistas estrangeiros para passear”, comemorou Pierluigi, um morador de Roma, acompanhado da esposa.

Para a Itália, a reabertura do Coliseu, que se soma à de outros monumentos e sítios históricos nos últimos dias, deve ajudar a relançar o setor-chave do turismo, muito afetado pelo novo coronavírus, que deixou mais de 33.000 mortos no país.

– “Ar puro” –

Apesar de um ressurgimento recente de casos diários, Moscou flexibilizou um pouco nesta segunda-feira suas restrições, autorizando comércios não essenciais a reabrirem depois de mais de dois meses de fechamento.

Seus moradores agora podem passear, sempre com máscaras e respeitando um sistema de horários.

“Finalmente podemos respirar ar puro e ver de novo nossos locais favoritos”, disse no famoso parque Gorki da capital russa Liza Astashevskaya, uma estudante de 17 anos.

No Reino Unido, as escolas da Inglaterra, fechadas desde meados de março, voltaram a receber crianças de 4 a 6 anos e de 10 e 11, apesar das críticas dos sindicatos locais, que consideram a decisão apressada.

Nesta segunda-feira, o Reino Unido, onde a COVID-19 deixou mais de 38.000 mortos, registrou 111 novos falecimentos, seu menor balanço diário de óbitos desde o início do confinamento.

Apesar do temor de uma segunda onda, também avançam para uma normalização Finlândia (reabertura de restaurantes, bibliotecas e outros locais públicos), Grécia (jardins de infância e escolas de ensino fundamental), Romênia (cafés, restaurantes e praias), bem como Albânia, Noruega e Portugal.

Os franceses, por sua vez, esperam com impaciência a volta dos cafés e restaurantes prevista para a terça-feira, assim como a suspensão da proibição de se deslocar para além de 100 km de casa.

Mas, apesar dos sinais positivos em alguns países, o coronavírus permanece muito ativo.

Nesta segunda, o Irã anunciou cerca de 3.000 novos casos em 24 horas, a maior cifra em dois meses no país, e o ministro da Saúde, Said Namaki, advertiu que o coronavírus está “longe” de ter terminado.

– Várias frentes para Trump –

Nos Estados Unidos, com mais de 104.000 mortos e 1,8 milhão de casos, o presidente Donald Trump não só enfrenta uma crise sanitária gigantesca, como também uma explosão de protestos e distúrbios em várias cidades após a morte de George Floyd, um cidadão afro-americano assassinado por um policial branco.

O país, o maior contribuinte da OMS, decidiu cortar laços com a agência, que acusa de indulgência com a China. No entanto, seu diretor, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou nesta segunda o desejo de continuar trabalhando com Washington.

“A OMS espera que esta colaboração continue”, disse o alto funcionário, exaltando “a generosidade” dos Estados Unidos “durante várias décadas”.

As medidas de confinamento geraram mal-estar em países como Estados Unidos, Espanha e Argentina, e aumentam as pressões aos governos para relançar setores econômicos vitais.

No Chile, as restrições impostas para conter a propagação do coronavírus levaram a economia a desabar 14,1% em abril com relação ao mesmo mês do ano passado, a pior queda desde o início dos registros, informou o Banco Central nesta segunda-feira.

O Equador, onde se registraram 3.600 falecidos e mais de 39.000 casos, decidiu retomar os voos comerciais domésticos e reduzir o toque de recolher de 15 para 11 horas.

O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, anunciou em coletiva de imprensa diária a reabertura gradual a partir da segunda-feira de atividades econômicas relacionadas “com a indústria automotiva, com a mineração e a indústria da construção”.

E o governo de Honduras, por sua vez, dividiu o país em três áreas, segundo a incidência do vírus, para adotar uma reabertura da economia “inteligente” e gradual.