Uma das atuais preocupações dos empresários brasileiros é a possibilidade de o País receber produtos chineses a preços de liquidação. A indústria nacional sabe que, com elevados estoques chineses e demanda mundial em baixa, haverá uma inevitável disputa ainda mais difícil para as empresas brasileiras.

Outro risco para nossa indústria está relacionado à possibilidade da perda de comércio com a Ásia em função de acordo dos Estados Unidos com a China, o qual pressupõe um incremento de US$ 200 bilhões nas importações, pela China, de produtos americanos.

O problema também está sendo observado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Estudo desta entidade revelou, que, dos produtos abrangidos pelo acordo, o Brasil respondeu por 3% das importações realizadas pela China em 2017, vendas que geraram receitas de US$ 32,3 bilhões e representam 68,1% das exportações brasileiras para aquele país.

As ameaças geradas pela pandemia se integram a outras já mapeadas em um estudo da KPMG que aponta os riscos emergentes do setor provenientes de tendências atreladas a inovações e tecnologias disruptivas. Infelizmente, eles não são os únicos.

Em função da globalização, as empresas enfrentam riscos envolvendo fornecedores de terceiros, com impacto sobre a rentabilidade e a liquidez. Eles se somam a outros já existentes, que podem incluir desde cenários políticos até os decorrentes da expansão da atividade, seja pela entrada em novos mercados, escassez de matéria-prima, deficiências na cadeia de suprimentos, cronogramas agressivos de lançamentos que geram suscetibilidade a erros, aumento nos custos de energia ou ineficiência na distribuição.

Sobre compliance, o relatório evidenciou que, caso uma empresa não esteja apta a proteger direitos de propriedade intelectual, há outras companhias potencialmente prontas para concorrer com ela.

Ainda sobre riscos deste setor em compliance, as operações internacionais precisam seguir as normas contábeis exigidas, há riscos regulatórios, disputas e processos judiciais e riscos relacionados às mudanças nas alíquotas de impostos.

Há outros riscos relevantes neste setor relacionados a diferentes aspectos dos negócios, como elementos de reputação, ética, sociedade, pessoas, estratégia, clientes, saúde, segurança, meio ambiente, crescimento, concorrência, tecnologia, produtos e operações.

Alguns demandam atenção máxima dos líderes empresariais: nacionalismo e protecionismo levam a barreiras comerciais; crescente pressão para desenvolver, atualizar, lançar e comercializar novos produtos; medidas de segurança cibernética insuficientes; preços oscilantes de equipamentos e elevados custos relacionados com pesquisa e desenvolvimento.

Não bastassem os riscos existentes antes da pandemia, agora os empresários brasileiros do setor industrial precisam superar novos desafios. Para tanto, terão que dedicar parte dos investimentos para ampliar a competitividade, ocupar espaços e gerar negócios. É a única saída possível para vencer os novos desafios e permanecer no mercado.

*Emerson Melo é sócio e líder de Industrial Manufacturing da KPMG no Brasil