Há dois anos estudando para entrar em Medicina na Universidade de São Paulo (USP), Elisa Sousa, de 18 anos, levou um susto quando viu que a concorrência havia aumentado. Aluna da rede pública, ela descobriu que a disputa ficou mais acirrada entre candidatos cotistas do que entre os de colégio privado – 166 e 107 candidatos por vaga, respectivamente. A primeira fase do vestibular será realizada neste domingo, 25.

Neste ano, pela primeira vez, a Fuvest – um dos processos seletivos para a instituição – vai reservar parte das vagas para cotas sociais e raciais. Com a meta de ter metade das vagas ocupadas por alunos da rede pública em 2021, a USP vai ampliar progressivamente as cotas. Este ano, 40% das 11.147 vagas estão reservadas para quem fez ensino médio na rede pública – 33,75% delas a pretos, pardos e indígenas (PPIs).

O acesso a essas 4,4 mil vagas reservadas se dá pela Fuvest e pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Mas a cota não é proporcional nas duas provas. Enquanto na disputa pelo Enem 80,2% das vagas são para escola pública e PPI, pela Fuvest são apenas 26,6%. Com proporção menor de vagas na Fuvest para cotas, alguns cursos tiveram salto na concorrência, como Medicina.

“Sei que é um curso muito concorrido, mas me surpreendeu. O que traz alento é pensar que a nota de corte pode ser menor para a rede pública. Acho mais justo, porque são pessoas que tiveram as mesmas oportunidades que eu”, diz Elisa. Ela e cerca de 127 mil candidatos se inscreveram para o exame.

Como os alunos escolheram na inscrição por qual perfil vão concorrer – ampla concorrência (sem direito a cotas), escola pública ou PPI -, serão três notas de corte diferentes para definir quem passa para a 2.ª fase.

Para coordenadores de cursinho ouvidos pelo jornal O Estado de São Paulo, a cota é uma conquista e permite ao aluno concorrer em igualdade de condições, mas eles chamam atenção para as poucas vagas via Fuvest. “Quem vai ocupar essas vagas é a elite da rede pública”, diz Gilberto Alvarez, do Cursinho da Poli. Em Medicina, por exemplo, de 135 vagas pela Fuvest, 18 são para a rede pública e 12 para PPIs.

Já pelo Enem, todas as 40 vagas foram colocadas para quem tem direito às cotas. O risco, dizem os professores, é de que a Fuvest se torne menos atraente para o aluno da rede pública, que vai preferir o Enem, com mais vagas disponíveis para o seu perfil e considerado menos conteudista.

Gislaine Ramalho, de 19 anos, tenta vaga em Relações Internacionais. “Achei o Enem bem difícil este ano. Agora a Fuvest é sempre mais complicada. Vou tentar pelos dois, mas acho mais fácil pelo Enem”, diz ela, que fez todo o ensino básico na rede pública.

Vinicius Haidar, coordenador do Poliedro, lembra, porém, que a disputa pelo Enem é maior, uma vez que todos os 5,5 milhões de candidatos da prova federal podem concorrer. “O aluno que quer a USP tem de recorrer a esses dois caminhos.”

Diretor executivo da Fuvest, Renato Freire, diz que os dois exames são complementares” e dão mais chances de acesso. Segundo ele, as unidades da USP ainda estão testando a distribuição pelos dois processos. “Sabemos que a quantidade de vagas oferecidas ainda não é a ideal e nosso plano é ampliar. Nossa expectativa é de que o aluno da rede pública consiga ocupar nossas vagas, disputando com igualdade.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.