Uma crise? Ou a correção temporária de uma moeda virtual errática? O bitcoin despencava nesta sexta-feira (22), quase tão abruptamente como subiu nas últimas semanas, sem que os especialistas financeiros realmente saibam como explicar o fenômeno.

A mais famosa das criptomoedas se situava nesta sexta-feira às 18h15 GMT (16h15 de Brasília) por volta de 12.840 dólares, segundo dados compilados pela agência Bloomberg, enquanto na segunda-feira se aproximava de US$ 20.000.

O bitcoin, que não parou de crescer depois de começar 2017 em torno de US$ 1.000, perdeu cerca de um quarto do seu valor em uma semana. Ou o equivalente ao dobro da capitalização de mercado do grupo L’Oréal, por exemplo.

A correção é particularmente brutal, mesmo para uma moeda virtual acostumada a fortes variações, e escapando das estruturas monetárias tradicionais.

Ao contrário do dólar ou do euro, o bitcoin não é emitido por bancos centrais, mas é “extraído”, ou criado, de forma descentralizada, por computadores que usam algoritmos complexos para produzir uma cadeia de blocos de transações codificadas e autenticadas (a chamada “tecnologia blockchain”).

A bolsa de transações de bitcoin Coinbase foi obrigada a anunciar nesta sexta-feira, por volta das 16h30 GMT (14h30 de Brasília) que, “devido ao forte volume de hoje [sexta-feira], a venda e a compra podem estar indisponíveis on-line”, embora tenha prometido restaurar as operações o quanto antes”.

– Chegou ao limite? –

Para Neil Wilson, da ETX Capital, com sede em Londres, “é difícil saber se o alerta já soou”.

Essas últimas semanas trouxeram quase tantas boas notícias como ruins para o bitcoin.

Certamente ganhou alguma legitimidade com o lançamento nos Estados Unidos de instrumentos especulativos baseados em bitcoin por operadores reconhecidos.

Além disso, de acordo com a Bloomberg, o gigante bancário Goldman Sachs estaria considerando entrar no “trading” de bitcoins, o que seria, de acordo com os critérios do mundo das finanças, uma espécie de consagração.

Mas o bitcoin, acusado de ser utilizado para todo tipo de tráfico ilegal, continua a ser altamente criticado.

Na quarta-feira, sua estrela começou a perder o brilho depois de informações de um ataque hacker a uma plataforma de negociação de criptografia na Coreia do Sul, Youbit. E na quinta-feira, Haruhiko Kuroda, governador do Banco do Japão, um importante mercado de bitcoin, considerou o aumento espetacular da moeda como “anormal”.

A isto se somam os recorrentes boatos sobre a criação de outras criptomoedas concorrentes e das rivalidades entre “mineiros”.

Para os especialistas, nada disso é suficiente para explicar sua queda repentina.

“Parece que é hora de os investidores aproveitarem seus lucros e gastá-los no Natal”, disse Neil Wilson.

Não é realmente possível comprar seus presentes ou peru em bitcoins, cujo uso comercial é muito marginal. Para gastar seus bitcoins, você deve trocá-los por outra moeda, o que reduz seu preço.

Belarus seguiu, no entanto, o exemplo do Japão nesta sexta-feira, ao reconhecer o bitcoin e as demais criptomoedas como forma de pagamento legal. As operações com estas moedas virtuais serão isentas de impostos até 2023, segundo um decreto assinado pelo presidente Alexandre Lukashenko.

– “Em apuros” –

Alexandre Baradez, analista do IG France, não vê explicação particular para a queda e lembra que o percurso do bitcoin sempre foi errático. Sua volatilidade “é 20 vezes superior à volatilidade euro/dólar”, ressalta.

Também lembra que a criptomoeda continua sendo um mercado muito pequeno em comparação com outras grandes divisas e que, portanto, só falta que alguns poucos proprietários de peso vendam para que a cotação venha abaixo.

Segundo Stephen Innes, da OANDA, os investidores do bitcoin enfrentam “um retorno ao chão”.

“Uma demanda desenfreada” associada a uma disponibilidade limitada “levou investidores inexperientes a apostarem com tudo”, diz.

Rebecca O’Keeffe, de Interactive Investor, espera ver se o bitcoin volte a subir ou se se desinfla definitivamente em benefício “de outras moedas virtuais menos caras”.

A “volta à terra” mencionada poderia ter seus limites, no entanto.

Para além do bitcoin, o entusiasmo pelas criptomoedas e pela tecnologia informática que lhe serve de base, o “blockchain”, continua sendo muito forte, para não dizer irracional.

A título de exemplo, o simples fato de o vendedor de chás gelados Long Island Tea Corp decidir mudar seu nome para Long Blockchain Corp. serviu para que seus papéis disparassem quase 200% na quinta-feira em Wall Street.