A Cosipa, que até outro dia era um patinho feio desdenhado por muita gente, está prestes a despontar entre concorrentes de peso, como a Companhia Vale do Rio Doce e a Companhia Siderúrgica Nacional. Até 2003, a siderúrgica planeja dobrar a produção de aço e avançar firmemente sobre o mercado externo. Essa perspectiva já se mostraria audaciosa em qualquer outra empresa, mas, no caso da Cosipa, debilitada pela desatualização de seu parque industrial, alto endividamento e excesso de pessoal, pareceu uma meta inatingível. Da privatização, em agosto de 1993, até hoje muita coisa mudou. Nos últimos sete anos, a empresa recebeu mais de US$ 1 bilhão em investimentos, o suficiente, por exemplo, para construir três montadoras. Em 2001, mais R$ 600 milhões serão desembolsados na modernização e na ampliação dos fornos. É o maior volume aplicado de uma vez desde que a companhia começou a operar, há 38 anos. Só para se ter uma idéia da importância desses investimentos, a situação era tão crítica antes de a companhia ser privatizada que, segundo Marco Paulo Penna Cabral, chefe geral da usina, a empresa não resistiria a mais três meses sem um aporte de capital. ?A única saída teria sido desligar os fornos e fechar as portas?, afirma.

Agora, os tempos são outros. Em três anos, a produção crescerá dos 2,5 milhões de toneladas atuais para 4,5 milhões por ano. Essa capacidade coloca a companhia numa posição privilegiada. O excedente da produção ? que deverá chegar em três anos a 50% do total ? será embarcado para os Estados Unidos, Europa e Ásia. Hoje, as exportações anuais movimentam US$ 150 milhões. Segundo cálculos do diretor-financeiro Magno Gonfiantini, já em 2002 as vendas externas saltarão para US$ 400 milhões. ?Mas, até chegar a essa situação mais confortável, a Cosipa teve de amargar momentos difíceis?, conta Gonfiantini. Depois de sair do controle estatal, a empresa precisou, de imediato, dedicar-se à solução dos consecutivos problemas ambientais gerados pelas suas operações na Baixada Santista.

Do total de recursos investidos no período pós-privatização, cerca de 20%, o equivalente a US$ 200 milhões, foi gasto para minimizar os danos ao ambiente e para recuperar as perdas financeiras. Toda essa fase de recuperação ambiental termina no próximo ano, quando serão aplicados os últimos US$ 40 milhões previstos.Outras mudanças colaboraram para tornar a companhia mais competitiva. De cara, a Cosipa tomou um ?banho de loja? com a renovação de equipamentos que há cinco anos não recebiam nenhum tipo de investimento. Paralelamente a isso, se iniciou um plano de redução de custos, que consistiu principalmente no enxugamento do quadro de funcionários. Com o corte de 40% do pessoal, a empresa passou a ter 5.700 funcionários fixos. Para ganhar agilidade, adotou o sistema de terceirização de mão-de-obra (hoje, mais de seis mil empregados fazem parte do quadro da fábrica regidos sob essas regras) e a contratação em regime temporário de oito mil profissionais, que estão sendo chamados desde o fim do ano passado só para trabalhar no programa de expansão da produção.

A Cosipa ainda tem uma complicada lição de casa: acertar suas dívidas. Apesar do endividamento elevado (R$ 2,8 bilhões, segundo o balanço do ano passado), o mercado é condescendente. ?A companhia tem credibilidade?, afirma o analista Márcio Lins, do Banco Pactual. Há dois anos conduzindo a reestruturação do passivo, a controladora Usiminas não teve dificuldades em alongar as dívidas de curto prazo. ?A Cosipa tem cumprido com seu cronograma de investimentos e projeta um aumento grande de caixa. Portanto, não há por que haver desconfiança da parte de credores e acionistas?, acrescenta. Os prejuízos acumulados nos últimos anos também centralizaram, com sucesso, boa parte dos esforços da empresa. Em 2000, o balanço apresentou um dos melhores resultados da história da Cosipa. Foram R$ 32,1 milhões de lucro, contra R$ 6,1 milhões no ano anterior.