Honduras elege, no domingo (28), um novo presidente em eleições marcadas pela corrupção e pelo tráfico de drogas, que atingem até as mais altas esferas do poder, e pelo temor de confrontos violentos.

“Esperamos que haja uma eleição pacífica, que não haja problemas e que tudo seja transparente”, diz Delia Flores, vendedora de alimentos em uma praça no centro de Tegucigalpa.

Seu medo não é gratuito. Em 2017, a questionada reeleição de Juan Orlando Hernández desencadeou confrontos com repressão policial, que deixaram cerca de trinta mortos.

Prestes a deixar o poder, Hernández foi citado em um tribunal dos Estados Unidos, onde seu irmão cumpre pena de prisão perpétua por tráfico de drogas, de ser cúmplice desse crime, acusação que rejeita.

Quem o suceder terá que combater a pobreza que atinge mais da metade dos 10 milhões de habitantes e que obriga muitos jovens a migrar irregularmente para os Estados Unidos em busca de trabalho.

“Esperamos que o próximo presidente forneça empregos, educação, que ajude os pobres a progredir e esperamos que não haja distúrbios”, pede Wilson García, vendedor de legumes em um mercado de capital.

O Partido Nacional (PN, à direita), no poder desde 2010, espera continuar no comando, agora por meio de seu candidato, o atual prefeito de Tegucigalpa, Nasry Asfura.

“Depois de uma dezena de anos de governo do Partido Nacional, marcados por corrupção e criminalidade generalizadas, a maioria dos hondurenhos está insatisfeita e parece buscar mudanças”, considera Michael Shifter, presidente do Diálogo Interamericano.

Asfura não está envolvido com o tráfico de drogas, embora esteja sendo investigado por desvio de verbas públicas.

Sua principal adversária é Xiomara Castro, do partido Liberdade e Refundação (Livre, esquerda). Se vencer, se tornará a primeira mulher a governar Honduras.

Ela é esposa de Manuel Zelaya, presidente deposto em 2009 por uma guinada à esquerda e por se aliar ao chavismo.

“Mas a máquina do Partido Nacional não deve ser subestimada, e muitos interesses poderosos devem fazer o que puderem para impedir que Castro assuma”, considera Shifter.

Na conservadora Honduras, o Partido Nacional atacou as propostas de Castro relacionadas à legalização do aborto e do casamento homossexual.

– EUA pede voto limpo –

Em 2017, uma interpretação polêmica da Constituição permitiu que Hernández se candidatasse à reeleição.

No dia da votação, o sistema de contagem de votos teve problemas mais de 600 vezes num momento em que seu principal adversário, o apresentador Salvador Nasralla, estava à frente com 60% dos votos.

Após as falhas, Hernández venceu por uma margem estreita e os protestos eclodiram.

Esta semana, Washington enviou o chefe da diplomacia para a América Latina e o Caribe, Brian Nichols, a Honduras para pedir eleições “transparentes e pacíficas”.

Os Estados Unidos são o maior parceiro comercial de Honduras

Se Castro vencer por uma pequena margem, “o Partido Nacional alegará fraude e isso pode ser perigoso para a estabilidade do país”, aponta o analista Víctor Meza, diretor da ONG Centro de Documentação de Honduras.

E se Asfura ganhar, não importa por quanto, “a oposição derrotada não vai aceitar e vai exigir a recontagem de votos ou novas eleições”, acrescenta.

Meza acredita que uma vitória de Castro por larga margem teria mais chances de ser aceita.

Disputam a presidência 13 candidatos, um dos quais foi preso, acusado de tráfico de drogas e homicídios.

Outra candidata é Yani Rosenthal, do Partido Liberal, que passou três anos em uma prisão nos Estados Unidos por lavagem de dinheiro do narcotráfico.

Em 2020, o Congresso dissolveu a Missão da OEA contra a Corrupção e a Impunidade (MACCIH) e aprovou um novo Código Penal que reduz as sentenças para casos de corrupção e tráfico de drogas.