Moedas virtuais

O designer baiano Gabriel Mattos Vaz, de 31 anos, nunca havia investido até junho de 2017. Naquele momento, porém, a valorização da Bitcoin chamou sua atenção. Durante o primeiro semestre, a moeda virtual havia se valorizado 160,9%. Vaz decidiu, então, apostar algum dinheiro no negócio. Não se arrependeu. Desde seu aporte, a Bitcoin valorizou-se mais 560%. No acumulado de 2017, até o dia 20 de dezembro, a alta é de 1.609%. Isso o incentivou a fazer algo que começa a se tornar uma febre no mercado de criptomoedas: procurar descobrir qual será a próxima Bitcoin. “Hoje, eu vislumbro um retorno mais alongado quando invisto”, diz ele. “Compro as moedas que acredito terem o maior potencial de valorização nos próximos meses.”

Essa busca não é exclusividade do designer. Nos fóruns de discussão, participantes novatos e experientes trocam teorias sobre qual será a próxima frequentadora das manchetes. A capitalização do mercado de moedas virtuais saltou 3.600% em apenas 12 meses. Seu valor avançou de US$ 16 bilhões no fim de 2016 para US$ 602 bilhões na quarta-feira 20. Quase metade disso, US$ 296 bilhões, corresponde à movimentação das Bitcoins. Os demais US$ 310 bilhões se dividem entre as 1.300 criptomoedas em circulação. Quais são as mais promissoras?

Para responder essa pergunta, um bom começo é traçar um paralelo com o mercado de ações. O iniciante corre o risco de se confundir com a multiplicidade de variáveis usadas na análise, mas é possível simplificar. Antes de escolher uma ação, o investidor tem de avaliar se a empresa é, ou não, lucrativa. Em segundo lugar, ele tem de calcular os riscos inerentes que podem fazer a empresa deixar de ser rentável. O mesmo raciocínio vale para as moedas virtuais, com uma grande diferença. Empresas elaboram produtos ou prestam serviços. Boas ou más, essas atividades produtivas geram mais ou menos retorno. Moedas virtuais não “produzem” nada. Sua valorização depende da tecnologia em que seu desenvolvimento se apoia. Assim, um investimento em uma moeda virtual é, de maneira simplificada, uma aposta tecnológica. O raciocínio subjacente aqui é que, ao se desenvolver, a moeda será usada por mais pessoas ou empresas e vai se valorizar. “Os investidores deveriam escolher as moedas com base nas tecnologias que acreditam ser as mais promissoras”, diz Fausto de Arruda Botelho, CEO da Enfoque Consultoria.

Para ele, uma das candidatas mais fortes a ser a nova queridinha do mercado é a Ethereum. Ela é a segunda moeda virtual mais líquida, com uma capitalização de mercado de US$ 77 bilhões. A Ethereum, negociada com o código ETH, promoveu uma revolução ao possibilitar o fechamento de contratos inteligentes por meio da rede descentralizada de programação, o blockchain. Essa tecnologia permite realizar transações rápidas e seguras de maneira muito barata, o que vem atraindo a atenção do mercado financeiro. Grandes bancos, como o americano JP Morgan e o espanhol Santander, estudam usar a Ethereum para transferir valores para outras instituições e para os bancos centrais. O interesse dos gigantes das finanças fez a Ethereum subir de US$ 7,93 em janeiro, para US$ 859 em dezembro, uma alta de 10.733%, valorização muito superior à da Bitcoin.

Outra moeda que vem atraindo interessados é a Monero, negociada com o código XMR. Ela oferece uma vantagem em comparação com a Bitcoin e a Ethereum: privacidade nas transações. Apesar de abrir espaço para usos ilegais, a possibilidade de não ter seus dados rastreados é um atrativo mesmo para quem não tem nada a esconder. “A proteção à privacidade pode garantir a demanda”, diz Gabriel Aleixo, co-fundador da AStar Labs, empresa de informática especializada em blockchain. Para Aleixo, as ferramentas que permitem às empresas direcionar publicidade na internet podem ser usadas para rastrear quem comprou o quê, quando e por quanto. Defender-se dessa bisbilhotice corporativa atrai os especuladores. “Grandes corporações já estão desenvolvendo ferramentas para rastrear redes de blockchains para garantir a conformidade de seus procedimentos”, diz.

Há outras candidatas, todas muito mais arriscadas do que a Bitcoin, por dependerem de tecnologias ainda restritas a poucos iniciados. Uma delas é a recém-lançada Iota, que começou a ser negociada em junho, com o código Miota. Ela se diferencia das demais por não estar baseada no blockchain, e sim em uma nova tecnologia conhecida como Tangle. A meta do Tangle é criar um sistema seguro para permitir a comunicação entre aparelhos, a chamada “Internet das Coisas”, considerada a nova fronteira digital. Desde seu lançamento, a Iota subiu 790% e o total em circulação é de US$ 13 bilhões, ocupando a sexta colocação entre as criptomoedas.

O campo é vasto e surgem novidades a cada dia. Há, hoje, pelo menos 30 moedas com capitalização de mercado superior a US$ 1 bilhão, o que as torna candidatas potenciais a ter uma valorização sustentável. Como todo mercado novo, os investimentos são arriscados. As tecnologias podem mudar e fazer os ganhos evaporarem em segundos.

Há outros problemas. Esses negócios operam em uma zona cinzenta jurídica e apresentam riscos jurídicos. No dia 19 de dezembro, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) suspendeu uma oferta pública de contratos de investimento coletivo, relacionados à mineração da Bitcoin. Os mineradores e investidores afirmam que as criptomoedas não são ativos financeiros.

Se o fossem, elas estariam sujeitas à fiscalização da CVM. A autarquia e o Banco Central (BC) ainda não se pronunciaram a respeito. No entanto, Ilan Goldfajn, presidente do BC, mostrou ceticismo. “Não hipoteque a sua casa para comprar essas moedas virtuais”, disse ele no dia 13 de dezembro. “É a típica bolha, a típica pirâmide, que em algum momento vai deixar de subir e vai voltar a baixar.” Esses e outros fatores devem sujeitar os investidores na Bitcoin, e em outras moedas, a muitos sobressaltos. “Não se descarta uma correção significativa nesse mercado”, diz Botelho. Muita cautela na hora de testar esse mercado, portanto.

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