28/01/2020 - 16:37
Os primeiros casos de pessoas que contraíram o novo coronavírus fora da China apareceram nesta terça-feira, enquanto vários países organizam a evacuação de seus cidadãos de Wuhan, epicentro de uma epidemia que deixou 106 mortos e cerca de 4.500 infectados no gigante asiático.
Neste contexto, pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde americanos (NIH) lançaram o desenvolvimento de uma vacina, um trabalho que levará vários meses, anunciou Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas.
“Estamos prevendo o pior dos cenários, no caso de se tornar uma grande epidemia”, explicou.
Uma dúzia de países foi afetada – com cerca de 50 pacientes – na Ásia, Europa, América do Norte e Austrália, mas desde o início da pneumonia viral, em dezembro, em Wuhan (centro da China) não tinha havido contágio entre humanos fora desse país.
A Alemanha, o segundo país afetado na Europa depois da França, relatou nesta terça o primeiro caso de contágio na Europa, um homem que teve contato com uma colega chinesa que estava de visita.
O Japão também anunciou o caso em seu território de um sexagenário que não viajou para a China, mas transportou turistas de Wuhan em janeiro.
“A epidemia é um demônio e não podemos deixar esse demônio escondido”, disse o presidente chinês Xi Jinping, referindo-se ao fato de o governo comunista ter sido acusado de esconder o coronavírus anterior, SARS, que causou centenas de mortes em 2002.
O secretário americano para a Saúde, Alex Azar, pediu nesta terça ao governo chinês mais transparência na gestão da epidemia.
“Mais cooperação e transparência são as medidas mais importantes a serem tomadas para uma resposta mais eficaz”, declarou em coletiva de imprensa.
Zhong Nanshan, renomado cientista da Comissão Nacional de Saúde da China, considerou que a epidemia deve atingir um pico em uma semana ou cerca de dez dias.
– Repatriamento –
Quase toda a província de Hubei, cuja capital é Wuhan, está isolada do mundo por ordem das autoridades para tentar impedir a propagação da epidemia. Cerca de 56 milhões de habitantes vivem confinados.
Essa quarentena surpreendeu milhares de estrangeiros na região. Para tirá-los, Estados Unidos, França, Japão, Marrocos e outros países preparam voos de repatriamento.
A França prepara dois aviões para repatriar 250 de seus cidadãos e mais de 100 de outros países, enquanto os Estados Unidos planejam recuperar os funcionários de seu consulado em Wuhan na quarta-feira.
O Japão enviou uma aeronave para Wuhan nesta terça-feira para cerca de 200 cidadãos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), porém, “não recomenda” a evacuação de estrangeiros presos em Wuhan, afirmou nesta terça-feira em Pequim seu diretor-geral, Tedros Adhanom Gebreyesus, de acordo comunicado da diplomacia chinesa.
A OMS disse à AFP que não poderia “esclarecer” essas palavras no momento.
“Temos todos os meios, a confiança e os recursos para vencer rapidamente a batalha contra a epidemia”, garantiu o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi.
A OMS considera a ameaça elevada, mas não ativou um alerta internacional.
A ameaça de propagação é considerável. Muitos estrangeiros que vivem em Wuhan estão angustiados: “É extremamente estressante. O principal medo é que isso dure meses”, disse Joseph Pacey, professor britânico de 31 anos, à AFP.
– Bateria de medidas –
A propagação do vírus aumenta a ansiedade e a bateria de medidas de contenção. Muitos países reforçaram a vigilância em suas fronteiras. A Mongólia fechou sua fronteira terrestre com a China.
Vários países desaconselham a viagem a esta província, mas a Alemanha a estendeu a toda a China. Os Estados Unidos fizeram o mesmo.
O pânico tomou conta das grandes metrópoles chinesas, onde os habitantes permanecem trancados em suas casas, com os shopping centers, cinemas e restaurantes desertos.
“Muitos estão muito preocupados. Não há muitas pessoas nessas ruas. As famílias preferem ficar em casa em vez de sair, todo mundo quer ter o mínimo de comunicação possível com o mundo exterior”, disse à AFP, no centro de Xangai, David, um morador de Wuhan.
As autoridades chinesas estenderam por três dias, até 2 de fevereiro, o feriado (sete dias) do Ano Novo Chinês, celebrado em 25 de janeiro, para atrasar o fluxo de centenas de milhões de pessoas e reduzir o risco de propagação da epidemia.
Além disso, o início do semestre escolar foi adiado sem prazo definido.
Pelo menos 2.000 trens interprovinciais foram cancelados em toda a China desde sexta-feira. As rotas ferroviárias serão suspensas até pelo menos 8 de fevereiro.
As autoridades chinesas recomendaram nesta terça-feira que seus cidadãos adiem seus planos de viagem ao exterior. Hong Kong anunciou que fechará locais públicos como estádios, museus e piscinas, reduzirá pela metade os voos da China continental e fechará seis dos 14 postos de fronteira.