As Bolsas mundiais despencaram nesta segunda-feira e milhões de pessoas no norte da Itália permaneceram impedidas de transitar, enquanto as autoridades tentam conter a expansão do coronavírus.

O governo italiano ordenou restrições a mais de 15 milhões de pessoas, 25% da população, incluindo os moradores de Milão e Veneza, uma medida semelhante à adotada pela China, onde surgiu a epidemia de COVID-19.

“A epidemia contaminou a atmosfera dos mercados. Com as bolsas europeias e americanas caindo e o preço do petróleo afundando, a epidemia é um catalizador” da debilidade e das contradições da economia mundial, disse Shen Zhengyang, analista da Northeast Securities.

As principais bolsas de valores europeias afundaram ao final do dia, registrando quedas de mais de 7% e 11%, muito afetadas pela epidemia e pelo fracasso das negociações entre a OPEP e a Rússia.

Para muitas, foi o pior desempenho em mais de uma década.

Em Milão, capital financeira da Itália isolada para tentar impedir a expansão da epidemia, o índice perdeu 11,17%. O CAC-40 de Paris 8,39%, o espanhol Ibex-35 7,96%, o Dax de Frankfurt perdeu 7,94% e o FTSE-100 de Londres 7,69 %%.

A Bolsa de Tóquio perdeu mais de 5%, a de Sydney 7,3%, depois de várias semanas no vermelho.

Wall Street também abriu com fortes perdas, o que levou a uma suspensão das negociações por cerca de 15 minutos. Às 14h15 GMT, o Dow Jones registrava queda de cerca de 5,62%. O Nasdaq caía 5,02% e o S&P 500, -5,51%.

Na América Latina, os principais mercados também entraram em colapso. A bolsa de São Paulo caía mais de 10% e a de Buenos Aires mais de 9%, logo após a abertura.

Diante dessa situação, vários bancos centrais adotaram medidas para apoiar a economia, enquanto aumentam os apelos aos governos para promover incentivos fiscais.

O FMI, por sua vez, pediu “uma resposta internacional coordenada” para atenuar o impacto econômico da epidemia.

Desde o surgimento do novo coronavírus, em dezembro do ano passado, foram registrados 110.000 casos em 99 países e territórios, com mais de 3.800 mortes, segundo um balanço feito pela AFP a partir de fontes oficiais.

– Restrições e multas –

A epidemia do Covid-19 perturbou a vida de milhões de moradores de todo o mundo, com o fechamento de escolas, escassez de produtos domésticos e restrições aos horários de viajar.

Na Itália, o governo adotou no domingo por decreto uma série de medidas excepcionais de confinamento de milhões de italianos que vivem no norte.

Também determinou o fechamento de cinemas, teatros, museus, bares, casas noturnas e outros locais semelhantes em todo o território até 3 de abril.

A polícia fará inspeções nas estações de trem e nas estradas principais. Além disso, os voos originários de Milão foram suspensos e foram estipuladas sentenças de três meses de prisão ou 206 euros (233 dólares) àqueles que violarem as regras.

O Egito anunciou no domingo a primeira morte do coronavírus, um alemão de 60 anos. Um navio de cruzeiro com 171 passageiros (101 dos quais estrangeiros) foi evacuado em Luxor (sul) depois que 45 casos foram detectados a bordo.

Ao mesmo tempo, o Irã anunciou 43 novas mortes na segunda-feira e a companhia aérea pública Iran Air suspendeu seus voos para a Europa.

Na China e na Coreia do Sul, as medidas tomadas para conter a epidemia parecem começar a funcionar.

A China informou sobre o fechamento da maioria dos hospitais temporários que o governo abriu para tratar os infectados com coronavírus em Wuhan, onde a epidemia surgiu, já que o número de novos casos é menor a cada dia.

A Comissão Nacional de Saúde registrou 40 novos casos em todo o país, o número mais baixo desde o início da coleta de dados em janeiro. A Coreia do Sul, o segundo país do mundo em número de casos depois da China, registrou 248 novos casos no domingo (o menor aumento em duas semanas), elevando o total para 7.382.

– Plano “perfeitamente coordenado” nos EUA –

Nos Estados Unidos – um país que está emergindo como um possível novo foco do vírus – pelo menos 21 pessoas morreram e o número de casos disparou, e mais de 500 já foram registrados.

Vários políticos republicanos indicaram que podem ter contraído o vírus. O senador republicano Ted Cruz anunciou que permanecerá em quarentena em sua residência no Texas depois de apertar a mão de uma pessoa infectada na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), perto de Washington, no mês passado.

O cruzeiro “Grand Princess”, com capacidade para 3.500 pessoas e com 21 infectadas à bordo, deve atracar em Oakland nesta segunda-feira.

Trump afirmou que as pessoas terão que permanecer a bordo do navio, mas o secretário da Habitação, Ben Carson, assegurou que, quando o navio atracar, será realizado um plano, que não foi detalhado.

Trump, acusado de difundir informações falsas desde o começo do surto, acusou a imprensa de desprestigiar o governo.

“Temos um plano perfeitamente coordenado e ajustado na Casa Branca para nosso ataque contra o coronavírus”, tuitou.