Quem anda pelo Apkujong, um dos novos centros comerciais de Seul, não vê sinais da crise que três anos atrás, a partir da capital coreana, contagiou o mercado financeiro internacional. Enquanto os mais velhos tranqüilamente conversam e lêem jornais, os jovens que compõem metade da população de 45 milhões de habitantes se penduram em celulares e consomem produtos como calças de US$ 500. A economia cresce 8% ao ano, a inflação é de menos de 3% e há US$ 90 bilhões em reservas, mais do que havia antes do furacão de 1997. Mas nem tudo são flores naquele jardim. Bancos e empresas ligadas aos grandes conglomerados familiares, os chaebols, estão à beira da falência.

?Haverá um colapso em várias empresas nos próximos dois meses?, disse a DINHEIRO Joo Hyung Kim, vice-presidente senior da LG Investments & Securities e um dos mais respeitados economistas da Coréia. ?Vai ser doloroso, mas não é mais possível o Estado determinar quem vai e quem não vai sobreviver. A situação financeira dos negócios é que deve decidir. Não posso citar nomes, mas grandes empresas estão entre aquelas que vão quebrar.? O economista afirma que o colapso anunciado não terá o mesmo impacto da crise asiática de 97, porque, agora, os analistas internacionais estão atentos. Internamente, porém, a repercussão poderá ser equivalente a de um terremoto.

 

A dívida dos quatro maiores chaebols ? Hyundai, Samsung, Daewoo e LG ? é de US$ 140 bilhões, mais de um quinto do PIB coreano. Nas ruas, entre jovens consumistas há um milhão de desempregados, ou 10% da força de trabalho. Antes da crise, eram apenas 200 mil. Os chaebols são o bode expiatório da vez. ?Os ricos ficam cada vez mais ricos sobre o nosso empobrecimento?, diz o camelô Park Young Sam, que já pertenceu aos quadros da Daewoo Motors. A empresa já recebeu quase US$ 28 bilhões do governo, mas acumula uma dívida de US$ 11 bilhões. Há duas semanas, com medo desse buraco, a Ford desistiu de comprar a companhia por US$ 6,9 bilhões. No último dia 18, no que foi considerado como ?segunda-feira negra?, o principal índice da bolsa coreana, o Kospi, caiu 8%. Agora, o governo tenta vender a empresa para outras companhias. E decidiu que, enquanto o mercado não resolve casos como esse, uma comissão oficial decidirá, a partir de outubro, quais empresas receberão recursos públicos para continuar sobrevivendo. A real situação financeira das empresas vai direcionar os investimentos estatais. Para saber se essa promessa é mesmo verdadeira ? e vai dar certo ?, só há uma alternativa para quem se angustia ao longe: esperar.