Começou nesta terça-feira (16) a reunião do Banco Central para definir a taxa de juros básica, a Selic. A decisão sai no início da noite desta quarta-feira e a expectativa é que o Copom (Comitê de Política Monetária) volte a aumentar a Selic, algo que não acontecia desde 2015, quando saiu de 13,75%, em junho, para 14,25%, julho.

Desde agosto, a taxa básica de juros está em 2% ao ano, que ocupa desde agosto. A nova taxa será divulgada nesta quarta-feira (17), após o fechamento do mercado.

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Diante da escalada inflacionária, a expectativa do mercado é de uma elevação entre 0,25 e 0,5 ponto percentual, aumentando a Selic para 2,25% ou 2,5% ao ano.

Para o diretor de Investimentos do Paraná Banco, André Malucelli, a pressão inflacionária brasileira e o aumento da taxa de juros norte-americana devem elevar a Selic. “A Selic deve subir, no mínimo 0,25 p.p, podendo subir até 0,5 p.p nesta reunião. O Banco Central deve continuar subindo gradativamente a taxa e encerrar o ano próximo a 4,25%.”

A Levante Ideias de Investimentos avalia que essa elevação dos juros sinaliza um encerramento da política monetária “excepcionalmente estimulativa” que vem sendo defendida pelo Copom desde o início da pandemia, apesar de a economia brasileira estar longe de sua capacidade máxima.

Recentemente a Ativa Investimentos alterou a expectativa de condução do Banco Central e projeta elevação de 0,25 p.p na reunião de quarta-feira (17/03), com outras duas elevações de 0,50 p.p nas reuniões subsequentes, interrompendo o ciclo de alta em agosto com expansão de 0,25 pp, deixando a Selic a 3,50%.

“A pandemia segue piorando muito e obrigando o fechamento das principais regiões produtivas do País. Vale lembrar que as decisões do BC têm um efeito defasado sobre a economia, e o horizonte relevante do Copom já está olhando mais para 2022, cujas expectativas de inflação seguem em cima da meta de 3,5%”, explica o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.

Para Sanchez, subir demais os juros agora pode amassar ainda mais os setores de serviços e da indústria. “A conjuntura econômica daqui a duas ou três reuniões permanece muito incerta”. O economista acredita que tornar a economia menos estimulativa apenas dificultará o processo de recuperação econômica e, de fato, empurrará a inflação para baixo, matando ainda mais os serviços, em detrimento do avanço de monitorados e alimentos.

Investimentos

O aumento na taxa básica de juros tem impacto direto nos investimentos. Deibert Fernandes de Aguiar, assessor de investimentos da Terra Investimentos, comenta que quem está com dinheiro alocado na poupança, por exemplo, conforme a Selic vai subindo, a rentabilidade segue a mesma tendência. A rentabilidade da poupança é de 70% da taxa Selic.

“Investimentos da categoria pós-fixado passam a ter uma rentabilidade maior com a subida da taxa, dado que esses investimentos também são atrelados à Selic. Já para os investimentos de categoria pré-fixado, é preciso estar atento à subida da Selic. Isso porque existe uma relação inversamente proporcional entre a taxa Selic e o valor do investimento pré-fixado: quando a taxa sobe, o preço ou valor da aplicação pré-fixada cai, mas essa relação só é absorvida se o investidor resgatar a aplicação antes do vencimento acordado”, diz.

Ele afirma que no caso dos fundos multimercados, a equipe de gestão dos fundos deve se posicionar para tentar ganhar dinheiro com a subida dos juros – podendo, ainda, alavancar um ganho percentual muito maior do que o número absoluto dos juros, que podem subir ao longo dos próximos meses.

Para Luis Alberto de Paiva, economista e presidente da Corporate Consulting, no entanto, “a Selic já está descolada das taxas praticadas no mundo real”, portanto qualquer alta terá pouco impacto na relação entre empresas e bancos ou investidores.

“Com a crise prolongada, as empresas estão em situação muito crítica. Há muito capital parado nas instituições financeiras, mas o risco-Brasil está muito elevado”, explica Paiva. “O investidor já não está colocando esse dinheiro para girar sem uma remuneração que considere coerente com esse risco. Portanto, aumentar a Selic em meio ou até um ponto terá pouco impacto, pois as taxas negociadas já estão muito longe desses 2%”, considera o economista.