Por Pedro Fonseca

RIO DE JANEIRO (Reuters) – Os tradicionais churrascos de família e encontros de amigos em bares para acompanhar os jogos do Brasil na Copa do Mundo podem se tornar “covidários” neste ano, em meio a um repique de casos de Covid-19 impulsionado por uma defasagem na vacinação e o avanço de novas subvariantes com maior poder de transmissão, alertaram especialistas.

Segundo país do mundo com maior número de mortes pela Covid-19, segundo dados oficiais, com quase 690 mil desde o início da pandemia, o Brasil registrou um aumento nos casos de mais de 230% na comparação da semana passada com o início do mês de novembro, retornando a um patamar visto pela última vez no fim de agosto. As novas infecções, provocados pela nova subvariante Ômicron BQ.1 e outras, têm sintomas mais leves para aqueles que estão com o esquema vacinal completo, o que significa que o número de óbitos não registra o mesmo aumento.

Anvisa torna obrigatório uso de máscara em aeroportos e aviões

Mesmo assim, hospitais têm registrado um aumento no número de pacientes internados, a maioria sem ter completado o esquema vacinal. Segundo o Ministério da Saúde, mais de 69 milhões de brasileiros ainda não receberam a primeira dose de reforço, que é indicada para todos acima de 12 anos.

Com a estreia do Brasil no Mundial do Catar na quinta-feira, os torcedores deveriam usar máscaras, em especial em locais fechados, e ter todos os cuidados de higiene para evitar o contágio, disseram especialistas. O ambiente festivo dos jogos, no entanto, não costuma ter esse cenário.

“Vai ser um covidário permanente. Toda aglomeração hoje nós consideramos um local de alta possibilidade de transmissão, porque é muito fácil de pegar”, disse a pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Margareth Dalcolmo. “Estamos tratando de um vírus de transmissão respiratória aguda e com capacidade de replicação enorme”.

A média de casos por dia no Brasil saltou de 3.750 por dia no começo do mês para mais de 12.500 na ultima semana, enquanto a média diária de mortes permaneceu em 36 nos dois períodos. No auge da pandemia, o Brasil chegou a registrar média de 3 mil mortes e quase 200 mil casos em um único dia.

Mesmo quem está vacinado tem sido contaminado nesse repique da doença, uma vez que as vacinas disponíveis no Brasil até o momento não foram desenvolvidas para enfrentar a variante Ômicron e suas subvariantes, o que representa um atraso em relação a países como Estados Unidos, Reino Unido e Chile.

“Evidentemente que se nós estivássemos vacinados com as vacinas atualizadas nós poderíamos diminuir essa transmissão que está tão alta”, afirmou Dalcolmo.

Somente na noite de terça-feira a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso emergencial das novas versões bivalentes do imunizante da Pfizer, quase três meses após o laboratório ter apresentado seu primeiro pedido. O órgão regulador também determinou a volta da obrigatoriedade do uso de máscaras em aviões e aeroportos.

Além disso, o Ministério da Saúde ainda precisa negociar com a empresa o fornecimento do imunizante atualizado, cuja recomendação de uso é como dose de reforço na população acima de 12 anos. Segundo a pasta, o contrato contempla a entrega de vacinas com cepas atualizadas aprovadas pela Anvisa, mas ainda não há uma previsão de entrega.

Também há um atraso em relação à vacinação de crianças. Somente 5,5% das crianças de 3 e 4 anos tomaram as duas doses, mais de quatro meses após a aprovação do uso emergencial da Coronavac para essa faixa etária, de acordo com levantamento da Fiocruz. Existe uma preocupação também em relação à faixa etária de 6 meses a 3 anos, uma vez que o governo só disponibilizou doses para crianças com comorbidades nessa faixa etária.

“Faltou responsabilidade sanitária ao governo federal, especialmente no que tange à precoce suspensão da Espin (Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional) em abril de 2022 e à continuidade da sua errática coordenação da vacinação no país, particularmente na lenta e pouco convincente campanha de vacinação em menores de 12 anos”, afirmou o epidemiologista Jesem Orellana, pesquisador da Fiocruz em Manaus, onde uma nova subvariante da Ômicron tem provocado uma disparada de casos.

Segundo ele, um “fracasso” na aplicação da dose de reforço contra a Covid-19 resultou no “aumento evitável de reinfecções e ambiente favorável à disseminação e surgimento de novas sublinhagens da Ômicron” no Brasil.

O Ministério da Saúde afirmou, em resposta à Reuters, que tem distribuído as vacinas a todos os Estados, com mais de 519 milhões de doses distribuídas nacionalmente.

A pasta ressaltou que enviou uma nota técnica aos Estados ressaltando a alta de casos devido às novas subvariantes e pedindo que a população e profissionais de saúde fossem fosse alertados quanto à situação da Covid e sobre reforço das medidas de prevenção e controle.

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