A comunidade internacional tentava, nesta sexta-feira (14), dar um passo à frente na luta contra a mudança climática na COP24, que deve adotar as regras para aplicar o Acordo de Paris, que pretende garantir o futuro das próximas gerações.

Reunidos na cidade polonesa Katowice, representantes de quase 200 países chegavam ao final de duas semanas de árduas negociações, marcadas pela urgência de atuar de acordo com os mais recentes relatórios científicos, mas também pela rejeição principalmente dos Estados Unidos de considerar a ameaça real.

A incógnia sobre a futura política climática do Brasil com Jair Bolsonaro na Presidência e os protestos dos “coletes amarelos” na França contra uma taxa ecológica também pesaram no desenrolar da 24ª Conferência da ONU sobre o Clima, três anos depois das celebrações em Paris com o anúncio de um acordo histórico.

Com o aumento da temperatura de 1 grau centígrado em comparação à era pré-industrial e o avanço de 2,7% das emissões de gases do efeito estufa em 2018, os países mais vulneráveis tentaram chegar a um acordo ambicioso, com alertas sobre o risco de “extinção”.

– A ciência, questionada pelos EUA –

Um grupo de países liderado pelos Estados Unidos – que participa nas negociações apesar de sua retirada do Acordo de Paris anunciada por Donald Trump – se opuseram a apoiar o informe.

Esta decisão chega depois que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climática (IPCC) advertiu em outubro que o mundo não pode permitir um aumento da temperatura superior a 1,5ºC, o que colocaria em risco o futuro da humanidade.

O detalhe é significativo porque toda a ação climática internacional deve ser baseada nos resultados científicos.

Um rascunho do texto final divulgado nesta sexta-feira se limita a “convidar as partes a fazer uso da informação contida no relatório do IPCC”.

“Não é possível questionar o 1,5ºC. Temos 10 anos para investir maciçamente”, com este aumento como referência, disse o ministro costa-riquenho do Meio Ambiente, Carlos Manuel Rodríguez. “Isto é o que buscam 190 países, enquanto outros sete – Estados Unidos, Rússia, China e os Estados árabes têm dúvidas”, lamentou.

A polêmica ofuscou as duas questões cruciais abordadas na abertura da COP24: a elaboração das regras para aplicar o Acordo de Paris e a futura revisão dos compromissos nacionais de redução das emissões.

A primeira diz respeito a assuntos como a transparência – como os países podem verificar se cada um cumpre as sua promessas – e o financiamento, ou seja, de que maneira os países desenvolvidos acompanham os mais pobres na adaptação à mudança climática.

– Chile sediará COP25 –

A segunda questão-chave implica a ambição. Embora os países tenham estabelecido em 2015 metas voluntárias de redução das emissões para conter o aquecimento a menos de 2ºC, estas deveriam ser revisadas em 2020.

O rascunho do texto final “reitera” a demanda de “atualizar” as contribuições.

De acordo com o IPCC, mesmo com a aplicação dos objetivos do Acordo de Paris a temperatura subiria 3ºC até o fim do século.

O texto em estudo é “um início, mas o trabalho não acabou”, afirmou Jennifer Morgan, do Greenpeace, antes de pedir ao países um compromisso com metas maiores de redução das emissões.

“A mão dos Estados Unidos está por trás de todo esse texto”. “É como um elefante na sala: não pretende participar do Acordo de Paris, mas continua negociando” e isto terá um “grande impacto no resultado”, lamentou Meena Raman, da ONG Third World Network.

A 25º Conferência da ONU sobre Mudança Climática (COP25) será realizada no Chile no fim de 2019, aprovaram nesta sexta-feira os países que participam da COP24.

No mês passado o Brasil cancelou seus planos de sediar esta reunião internacional, alegando restrições fiscais e orçamentárias, em pleno processo de transição para o governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro.

A Costa Rica, que também tinha mostrado interesse em sediar a COP25, antes de retirar sua candidatura e deixar o caminho livre para o Chile, organizará a pré-COP, que costuma ser organizada semanas antes.

A ministra chilena do Meio Ambiente, Carolina Schmidt, comemorou a decisão e o fato de que a conferência “permanecerá na região”, definindo a tarefa como um “desafio enorme”.