O contrabando de ouro custa anualmente pelo menos 1,5 bilhão de dólares ao Zimbábue, mais do que o estimado pelo governo, segundo um relatório divulgado nesta terça-feira (24) pelo centro de reflexão International Crisis Group (ICG).

As autoridades, que tentam pôr fim a este contrabando lucrativo, calculavam que o montante chegaria a 100 milhões de dólares por mês ou 1,2 bilhão de dólares ao ano.

“Nossas estimativas sugerem que ouro sai ilegalmente do Zimbábue no valor de mais de 1,5 bilhão de dólares, frequentemente com destino a Dubai”, escreveu o ICG.

Cerca de 10% da população vivem da mineração do ouro, segundo a organização, que destaca que a atividade varejista artesanal se tornou uma verdadeira “tábua de salvação” para muitos zimbabuanos.

Após décadas de gestão desastrosa, o Zimbábue aposta na receita lucrativa do ouro para reativar a economia, socavada pela corrupção, a hiperinflação e, mais recentemente, a pandemia do novo coronavírus.

O setor de mineração representa 60% das exportações do país, o que supõe um bilhão de dólares por ano, e alcança 50% dos investimentos diretos estrangeiros, lembrou recentemente o presidente Emmerson Mnangagwa.

Mas o ouro também atrai a corrupção, o contrabando e escândalos que vêm à tona e se multiplicam. A atividade mineradora é dominada por pequenas empresas, o que facilita pequenos tráficos.

No mês passado, uma encarregada do setor minerador foi detida no aeroporto de Harare prestes a embarcar para Dubai com seis quilos do metal precioso na bagagem de mão, que teria um valor de 357.000 dólares no mercado internacional.

O ministério público acusa Henriette Rushwaya de pertencer a uma rede organizada que opera em larga escala. “É um exemplo clássico da forma do crime organizado operar”, declarou o procurador Garudzo Siyadhuma durante uma audiência.

A detida acusou a esposa do presidente, Emmerson Mnangagwa, Auxillia, e seu filho, Collins.

O governo estabeleceu regras para tentar contrabalançar as perdas. Mas segundo muitos observadores, são totalmente ineficazes.

As restrições à posse de moedas estrangeiras, decretada pelo Banco Central do Zimbábue e a taxa de câmbio fixa não fazem mais do que agravar a situação.

Os mineiros têm que vender o ouro que tiram para um monopólio do Estado, que lhes paga 55% em moeda estrangeira e o restante em dólares zimbabuanos, moeda que se desvaloriza regularmente.

“Este sistema de compra centralizada tende a remunerar abaixo do preço os produtores, o que incentiva o contrabando”, destaca o ICG.