A frase que intitula o artigo desta quinzena pode dar um certo norte para iniciarmos qualquer discussão acerca da diversidade no Brasil. Com base em números dos mais respeitados institutos brasileiros de pesquisas, como IBGE, IPEA e FGV, o Brasil tem uma população aproximadamente de 208 milhões de habitantes, 56% do qual se autodeclaram negros e pardos, o que se constitui em mais de 100 milhões de pessoas. Se levarmos em conta só essa população negra, seriamos o 2º maior país negro do mundo, perdendo apenas para a Nigéria, que fica no continente africano.

Separando o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de brancos e negros, temos dois países: um rico e desenvolvido, que figuraria entre as 50 maiores economias e qualidade de vida do planeta, e o outro entre negros e pobres, abaixo das 100 economias do mundo, abaixo, inclusive, de alguns países mais pobres do continente africanos. São tristes números da economia que, quando analisados mais de perto, socialmente demonstram que os indicadores sociais como habitação, transporte, segurança pública, entre outros, são fatores de extrema segregação social e racial no Brasil do século XXI.

Porém, o lado positivo de todo esse caos e desequilíbrio social e racial é que aqueles requisitos básicos que os sociólogos e defensores da meritocracia tanto usaram para justificar e aliviar um pouco a culpa pela falta de oportunidades que negros e negras enfrentaram desde o fim da escravidão, que foi o não acesso à educação e, consequentemente, o não desfrutar dos benefícios que ela poderia trazer.

Hoje, muito diferente do século XX, quando nunca ultrapassamos 2% de ocupação nos bancos das universidades, há uma significativa diferença. Em menos de 20 anos estamos próximos de 20% na ocupação desses espaços. Aliás, no espaço acadêmico, temos ocupado mestrado, doutorado e pós-doc, e com forte presença feminina, contrapondo inclusive os indicadores sociais que ainda colocam as mulheres negras na base da pirâmide social. Ou seja, no quesito educação, apesar dos números ainda serem desfavoráveis, não há explicação convincente para a nossa exclusão no mercado de trabalho, a não ser o preconceito e o racismo enraizado no maior país negro fora da África.

Esses números apontam para uma só realidade: que, mesmo que aumente nossa presença nas universidades e nos espaços acadêmicos, a saída para a negativa no mercado de trabalho tem sido o empreendedorismo, inclusive o digital, pois com uma formação mais sólida e um mercado de trabalho que nos exclui graças a uma cultura racista e excludente, o que sobra é empreender no seu próprio negócio. Prova disso é que, novamente, os números da economia demonstram que recentemente o número de empreendedores negros no Brasil ultrapassou o número de empreendedores brancos.

De olho nesses números, é de se perguntar: o que sua empresa tem realizado para ir de encontro com essa nova realidade, seja na área da diversidade na própria engrenagem da empresa, seja relacionada a fornecedores, uma vez que o empreendedorismo afro está aí também querendo ser um parceiro de sua empresa, ou mesmo pensando nesses mais de 100 milhões de consumidores cada vez mais preparados e exigentes, cobrando inclusive das empresas uma maior diversidade?