Poucos executivos do mercado financeiro têm um carinho tão grande por contadores quanto o CEO e fundador da startup Contbank, Paulo Castro. “O contador é como um médico de família: é ele quem leva a empresa para a ‘maternidade’ e a acompanha por toda a vida”, afirmou à DINHEIRO.

Para Castro, por acompanhar de perto a saúde financeira e fiscal dos clientes, os contadores reúnem os requisitos necessários para atuarem também como agentes de negócios, especialmente para micro e pequenas empresas.

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Foi com essa visão que ele criou a fintech Contbank. “Nossa proposta de valor é levar serviços financeiros a esse segmento por meio dos contadores, que neste caso atuam como os assessores de investimento da XP”, disse. “A estratégia é que o contador seja o protagonista dos negócios dessas empresas.” Criado em 2019, o Contbank passou a cadastrar agentes em abril deste ano e já tem como parceiros 600 escritórios de contabilidade. Juntos, eles atendem cerca de 200 mil clientes em 125 cidades de todos os estados brasileiros. A estratégia é converter toda essa carteira em correntistas Contbank, que hoje somam 5 mil — entre pessoas físicas e jurídicas. E, claro, seguir ampliando a base de agentes de negócios: dos atuais 600 para 2,5 mil até o final de 2022, e assim progressivamente até chegar aos 80 mil escritórios contábeis em atividade no País. Isso representa uma carteira potencial de 8 milhões de clientes.

“O Contbank é uma startup que oferece solução única para empresas que encontram dificuldades na hora de contratar serviços financeiros” Gustavo Junqueira Presidente da Investsp.

Para entender o apelo da fintech junto a esse público-alvo é preciso entender o que ela faz. “A gente não atua no negócio de contabilidade e sim sobre os dados das empresas, com big data e inteligência artificial, para ajudá-las a encontrar as melhores oportunidades de negócio”, disse Castro. Ele trabalhou por duas décadas no portal de internet Terra, dos quais dez anos na posição de CEO. Agora como banqueiro, disse reunir o melhor de dois mundos: a tecnologia, que se assemelha à de outros bancos digitais, incluindo cartão de crédito, seguros e investimentos, aliada ao fator humano, que é o contador.

O agente de negócios Contbank é remunerado no ciclo de vida da relação que mantém com o cliente. “É praticamente uma sociedade. Nós dividimos com eles o que ganhamos em cada operação, descontados os nossos custos e uma reserva legal exigida pelo Banco Central”, disse Castro.

Segundo ele, a familiaridade do contador com a empresa pode aliviar uma dor constante de muitos negócios, que é a obtenção de crédito. “Queremos aproximar o mercado financeiro da economia real. As micros e pequenas empregam mais de 50% da população economicamente ativa, geram 30% do PIB e não acessam o mercado financeiro de forma adequada”, afirmou. Como mudar isso? Aproveitando o conhecimento que os contadores reúnem sobre os clientes para construir um “score” de crédito. “O que ajuda a reduzir os riscos para quem pode fornecer empréstimos é conhecer a saúde financeira, a eficiência da empresa em termos contábeis, se ela tem recebíveis”, dados aos quais o contador tem acesso.

EUROPA E isso não se limita ao Brasil. “A dificuldade de acesso ao crédito é semelhante em muitos países”, disse Castro, já que a contabilidade é uma linguagem universal. Pelos seus cálculos, é possível triplicar a escala do Contbank atuando nos principais mercados da América Latina e alguns países da Europa. E é aí que entra o SP Global, o Programa de Aceleração para Internacionalização de Startups Paulistas.

Na iniciativa da InvestSP e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do estado de São Paulo para preparar startups de forma a atuar no mercado internacional, dez empresas foram selecionadas, entre elas o Contbank.

“Com o SP Global, a InvestSP busca identificar e apoiar startups que ofereçam soluções que podem ser escaladas no mercado internacional”, disse o presidente da InvestSP, Gustavo Junqueira. “O Contbank é uma startup que oferece solução única para empresas que encontram dificuldades na hora de contratar serviços financeiros”. Segundo ele, a fintech se destacou em critérios como o potencial para o mercado europeu, grau de inovação e capacidade de planejamento.

O programa, gratuito, está estruturado em três fases: capacitação, imersão e “scaling-out”, que coloca o plano em prática com suporte contínuo da InvestSP para garantir que o negócio cresça de forma estruturada. “É um processo de longo prazo, mas ter sido selecionado entre as dez comprova que o modelo faz sentido globalmente”, disse Castro.