A justiça colocou um bode na sala dos bancos. Um não. Vários. Eles custariam, por baixo, algo entre R$ 180 bilhões e R$ 300 bilhões em indenizações a milhares de poupadores que tinham dinheiro aplicado quando levaram seguidos e gordos calotes durante os planos Bresser, Verão e Collor. Especialmente na temporada desse último que surrupiou cada centavo dos brasileiros em nome de um ajuste fiscal que nunca veio. Ao menos não durante o curto mandato daquele que se dizia “caçador de marajás”. A conta dos 300 bi era, decerto, impagável. Quebraria o sistema. Colocaria as finanças do País em polvorosa. Buscou-se assim uma saída, digamos, branda.

Os R$ 10 bilhões, dentro dessa perspectiva, parece troco. Mas vai beneficiar, inicialmente, quase um milhão de desesperados brasileiros que entraram com ações para ressarcir parte do dinheiro. Banqueiros privados aquiesceram. Diante do inevitável, cada um vai contribuir com o pedaço que lhe cabe. Como disse um deles, representa uma espécie de prêmio de seguro contra riscos futuros de colapso. Os numerários ainda podem subir. Quase 25 anos depois do desaforo financeiro do congelamento das aplicações até herdeiros terão direito a receber aquilo que seus pais ou avós perderam por equívoco ou malversação de seguidos governos.

De lá para cá, nunca mais a credibilidade dos investidores foi a mesma. Poupam desconfiando e, ao menor sinal de ameaça, correm para reaver o que depositaram. Eis o verdadeiro prejuízo dessa barbaridade: a falta de crença no sistema. A Advocacia Geral da União ainda estuda como compensar aqueles que tinham dinheiro na poupança à época das medidas e que não entraram com ação. Pelo princípio da isonomia, esse movimento é inevitável. Instituições de defesa do consumidor, após cálculos sistemáticos de correções e juros, alegam que o justo é uma cifra no montante total de R$ 18 bilhões a R$ 26 bilhões.

O valor definitivo varia de acordo com o lado do interessado. Mas não há dúvida de que essa primeira deliberação converte-se em um fato histórico. Por tabela, a montanha de recursos – que já está disponível para saque através de várias agências, de acordo com as regras estabelecidas – deverá auxiliar no crescimento da economia. Mais dinheiro circulando faz girar a roda do desenvolvimento. Somado aos desembolsos concedidos via FGTS e PIS/Pasep, tamanho crédito deve garantir um Natal mais gordo, sem dúvida. Em outras palavras: serão R$ 10 bilhões que retornarão ao caixa com altos dividendos.

(Nota publicada na Edição 1047 da Revista Dinheiro)