Por Francesco Canepa

FRANKFURT (Reuters) – Quando Christian Hurtz abriu sua conta de luz pouco antes do Ano Novo, seu queixo caiu: o valor mais que triplicou em relação à tarifa que pagava inicialmente.

O desenvolvedor de software de 41 anos de Colônia, na Alemanha, é um dos milhões de europeus que viram seus custos de energia dispararem, já que fornecedores ou faliram devido aos aumentos nos preços do gás ou os repassaram para os clientes.

“No começo eu pensei que era o valor para três meses”, disse Hurtz, cuja conta veio de um provedor substitutivo, depois que sua própria empresa de energia parou de fornecer.

“Quando percebi que eles queriam aquilo todo mês, meu queixo caiu. Isso estragou um pouco minhas férias de Natal”, disse ele à Reuters.

Em 2020, as famílias da zona euro gastaram em média 1.200 euros com gás e eletricidade. Esse número deve aumentar para 1.850 euros neste ano, segundo analistas do BofA, à medida que as tensões geopolíticas elevam os preços do gás natural, o que a escassa oferta de energia a partir de fontes renováveis não consegue acompanhar.

“BOOM” DO CONSUMIDOR?

Para este ano, a expectativa era de que os gastos do consumidor impulsionariam o crescimento econômico após dois anos de demissões e lockdowns da Covid-19.

O Banco Central Europeu (BCE) disse em dezembro esperar que a economia da zona do euro cresça 4,2% em 2022, impulsionada por uma alta de 5,9% no consumo privado.

Mas os custos mais altos de energia, que estão afetando as famílias em casa e nos postos de gasolina –com o petróleo subindo pela metade e os preços do gás natural no atacado quadruplicando em um ano–, estão colocando essas previsões em xeque.

A energia normalmente responde por pouco mais de 6% do consumo privado na zona do euro, mas isso pode aumentar para 8% a 10% como resultado dos preços mais altos, de acordo com estimativas do ING, reduzindo o que está disponível para gastar em outros bens.

O impacto no crescimento deve ser significativo.

“Se os aumentos de preços vêm de uma demanda maior, eles são menos prejudiciais”, disse Miguel Cardoso, do BBVA Research. “A situação atual não é assim. Estamos vendo um choque negativo de oferta.”

Algumas pessoas já começaram a apertar os cintos.

“É preciso realmente reduzir”, disse Hurtz. “Chegou ao ponto em que é preciso se perguntar se ainda posso comprar aquele queijo ou se devo comprar um de mais baixa qualidade.”

(Reportagem adicional de Gavin Jones em Roma, Belen Carreno em Madri, Rene Wagner em Berlim, Leigh Thomas em Paris, Angeliki Kotantou em Atenas, Stephen Jewkes em Milão, Bart Meijer em Amsterdã e Nina Chestney em Londres)

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