A expressão “fora da caixa” tem um significado especial para a Wiz. Criada em 1973 com o nome Fenae Corretora, ela viveu mais de quatro décadas praticamente dentro da Caixa Econômica Federal e da Caixa Seguradora — sempre intermediando a venda de seguros. Em 2015, já rebatizada como PAR Corretora, a empresa fez um IPO de R$ 600 milhões. A abertura de capital abriu também novos caminhos de crescimento. Nos últimos dois anos, depois de mudar mais uma vez de nome (desta vez para Wiz Soluções), ela firmou seis novas parcerias. Em 2019, adquiriu 40% da Inter Seguros, do banco Inter. Depois, abocanhou parte da Barigui Corretora, do grupo que controla a maior rede de concessionárias de veículos da região Sul do País. Em 2020, fez acordos com o banco BMG e com a Galápagos Capital, que gerou a Wimo, voltada à oferta de crédito com garantia de bens no modelo home equity. Neste ano vieram as associações com o Itaú, para a comercialização de consórcios, e também com o Grupo Caoa, que resultou na Caoa Seguros, joint venture para atuar com exclusividade por 20 anos na rede de 233 concessionárias.

Essa movimentação parece não ter agradado à Caixa. Em fato relevante divulgado no início de fevereiro, a Wiz confirmou ter sido excluída da lista de co-corretoras selecionadas pela Caixa Seguridade para atuar nas linhas de negócios da instituição. Segundo comunicado, no período de nove meses encerrado em 30 de setembro de 2020, “a comercialização de novas apólices pela Wiz, junto à Caixa Econômica Federal, representou 44,5% da receita bruta consolidada”. Como essa receita deixou de ser recorrente a partir da segunda-feira (15), o mercado reagiu da maneira esperada. Em cinco dias, o valor dos papéis da Wiz negociados na B3 (WIZS3) caiu da máxima de R$ 8,18 para o piso de R$ 7,05, atingido na tarde da quarta-feira (17). No pregão, queda foi de 9,82%. Para o analista de investimentos da Planner Corretora de Valores, Victor Luiz Martins, o cancelamento do contrato com a Caixa não era esperado, e pegou o mercado de surpresa. Segundo ele, a queda das cotações foi amplificada pelo tamanho da pressão vendedora. “Em geral, os negócios com as ações da Wiz movimentam R$ 10 milhões por dia, e o movimento da quarta-feira (17) foi de R$ 34 milhões”. Como a queda do faturamento da Wiz já foi precificada, a expectativa agora é quanto aos negócios que ela fará no longo prazo. Para Martins, “as perspectivas são positivas, pois a companhia tem uma boa participação de mercado e ainda pode diversificar suas atividades”.

LUCRO 30% maior Desde o anúncio de sua saída da Caixa, a Wiz tem procurado tranquilizar o mercado, especialmente os cerca de 85 mil investidores que adquiriram papéis desde o IPO. E há bons argumentos para acreditar que o fim do casamento com o banco federal não é ruim. Segundo o CEO Heverton Peixoto, a empresa fechou o terceiro trimestre de 2020 com R$ 240 milhões em caixa e lucro líquido de R$ 81 milhões. Uma alta de 30% em relação ao mesmo período do ano anterior. “Somos uma companhia sem alavancagem, com recursos descompromissados para proporcionar o crescimento de nossas unidades de negócios, assim como abraçar novas oportunidades de mercado”, afirmou Peixoto.

A aposta mais ambiciosa, contudo, é a de transformar a Wiz em uma espécie de XP dos consórcios, usando para isso a rede de 13 mil agentes que já atuam junto a empresa. Em 2020, a receita gerada pelo negócio. “Hoje eu sou o maior originador de vendas de consórcios fora de uma agência bancária”, disse o executivo à DINHEIRO. Segundo ele, os passos iniciais para liderar o segmento já foram dados. O primeiro foi a montagem de uma rede comercial de 13 mil pessoas a partir da força de venda de seguros e produtos financeiros. Depois, a estruturação de um time para treinar e capacitar esses vendedores, com 200 colaboradores. “Criamos um time de welcome call para evitar vendas de má qualidade e uma área de operações estruturadas para vendas de cotas de R$ 10 milhões, algo que não existe no mercado”, disse Peixoto.

Para ele, mais importante do que o trabalho já realizado é o que ainda está por vir. A estratégia para os próximos cinco inclui não apenas parcerias, caso de um acordo com um grande banco internacional, já em fase conclusiva. Ela prevê também investimentos em comunicação para valorizar os benefícios do consórcio. “Queremos mudar a percepção de que é um produto ‘old school’, que só era vendido na agência bancária devido ao relacionamento do gerente com o cliente”, afirmou. “Temos visto mais pessoas entrando no consórcio como forma de investimento e, além disso, empresas se aproveitando de modelo para fazer aquisições e renovar seus equipamentos”. A melhor prova de que a Wiz segue no caminho certo está nos resultados que ela obteve em 2020, quando movimentou R$ 6 bilhões no segmento.