O partido conservador do primeiro-ministro Boris Johnson registrou uma vitória histórica em Hartlepool, elegendo um parlamentar pela primeira vez em mais de 50 anos neste reduto trabalhista no nordeste da Inglaterra – apontam resultados oficiais anunciados nesta sexta-feira (7).

De acordo com estes resultados, entre os primeiros a serem anunciados após as eleições locais e regionais realizadas na quinta-feira (6), a candidata conservadora Jill Mortimer obteve 15.529 votos, quase o dobro do obtido por seu oponente trabalhista Paul Williams (8.589).

“É um resultado histórico”, parabenizou Amanda Milling, da cúpula do partido, em uma nota.

Estas eleições locais foram vistas como um teste para Johnson e sua legenda após a plena entrada em vigor do Brexit, com a saída do país do mercado único europeu e da união aduaneira em 1º de janeiro.

Também foram as primeiras desde o início de uma pandemia, por cuja gestão foi inicialmente muito criticado. Agora, no entanto, sua popularidade se recupera, graças ao sucesso de sua campanha de vacinação.

– ‘Demolidor’ para a esquerda

Para o líder da oposição trabalhista, Keir Starmer, este resultado é um mau presságio para as eleições gerais de 2024.

Quando assumiu a liderança de sua sigla há um ano, Starmer prometeu colocar o partido de volta aos trilhos, após sua derrota histórica nas eleições legislativas de 2019.

“É terrivelmente decepcionante”, tuitou o deputado trabalhista Richard Burgon. “Retrocedemos nas áreas em que deveríamos ganhar. A liderança trabalhista deve mudar”, afirmou.

“Este é um resultado demolidor para os trabalhistas, absolutamente demolidor. E, que uma cidade como Hartlepool, trabalhista por meio século esteja agora nas mãos dos conservadores, é aterrador”, disse à rede BBC o deputado trabalhista e responsável pelas Comunidades Locais no partido, Steve Reed.

“O ritmo de mudança no Partido Trabalhista não foi rápido o suficiente. Temos de acelerar isso”, defendeu. “Há uma brecha de confiança entre grande parte do eleitorado britânico e o Partido Trabalhista, e não fizemos o suficiente para repará-la neste último ano”, sentenciou.

Assim, apesar dos 127.000 mortos por covid-19, o maior balanço de qualquer país europeu e dos recentes escândalos de corrupção, o polêmico primeiro-ministro britânico passou bem em seu primeiro teste eleitoral.

“Não nos esqueçamos: Johnson conseguiu o Brexit, o primeiro-ministro é popular entre os que votaram pela saída da UE, o governo conservador gastou quantias astronômicas durante a pandemia e supervisionou uma campanha de vacinação muito bem-sucedida”, além disso, “a economia está se recuperando”, analisou Jane Green, professora de Ciência Política da Universidade de Oxford, no Twitter.

– E a Escócia? –

Johnson ainda tem, no entanto, um teste bem mais importante para superar: o impulso que os separatistas esperam alcançar na Escócia, onde um novo parlamento regional foi votado no âmbito de uma “Super Quinta-feira”. A data reuniu um grande número de eleições, que havia sido adiada por causa da pandemia.

Naquela região de 5,4 milhões de habitantes, o Partido Nacionalista Escocês (SNP), da primeira-ministra Nicola Sturgeon, que governa em minoria, espera obter um apoio muito forte para levar adiante sua reivindicação de um segundo referendo sobre autodeterminação.

Na primeira consulta sobre a independência, em 2014, o “não” se impôs por 55%.

O grande argumento contra a separação era que ela deixaria a Escócia fora da União Europeia. Dois anos depois, porém, o referendo sobre o Brexit inverteu as coisas, e os escoceses acabaram saindo do bloco com o restante do país, apesar de 62% terem rejeitado essa mudança de status.

Sturgeon argumenta que isso mudou a situação e espera reforçar sua posição para pressionar Londres.

Os primeiros resultados devem ser conhecidos nesta sexta-feira à tarde (7), mas a maior parte sairá no fim de semana.

Cerca de 48 milhões de eleitores eram esperados nas urnas na quinta-feira (6) para eleger 5.000 vereadores de 143 assembleias regionais na Inglaterra, assim como para os parlamentos regionais do País de Gales e da Escócia e a prefeitura de Londres. Nesta última, o trabalhista Sadiq Khan, o primeiro prefeito muçulmano de uma capital ocidental, deve vencer sem dificuldade.