Após semanas de desacordo, especialmente entre os Estados Unidos e a China, o Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta quinta-feira (9) para discutir, pela primeira vez, a pandemia de coronavírus.

Liderados pela Alemanha, nove dos 10 membros não permanentes do Conselho solicitaram na semana passada a reunião a portas fechadas – em videoconferência, para manter o distanciamento social – cansados da inação diante desta crise global sem precedentes.

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As discussões caminham na direção certa, disseram diplomatas, e Washington já não insiste mais que a ONU se refira ao vírus como vindo da China, algo que irritou Pequim.

Espera-se que o secretário-geral Antonio Guterres se concentre nos esforços para combater a pandemia, nas missões de manutenção da paz e na promoção da união entre os cinco membros permanentes e os não permanentes.

Há dois textos para debate.

Um, liderado pela Tunísia em nome dos 10 membros não permanentes, pede uma “ação internacional urgente, coordenada e unida para conter o impacto da COVID-19” e insta um cessar-fogo global imediato por razões humanitárias.

Esse projeto de resolução, consultado pela AFP, está em desenvolvimento desde 30 de março, embora uma votação ainda não tenha sido agendada.

O segundo texto, proposto pela França, enfoca no apelo feito por Guterres no mês passado para acabar com as hostilidades em todo o mundo, como parte de uma “trégua humanitária” para combater a pandemia.

Até agora, este último recebeu apenas contribuições dos membros permanentes, algo que, segundo diplomatas de países não permanentes, tem sido “muito frustrante”.

Os esforços para realizar a reunião foram prejudicados pela hospitalização do primeiro-ministro britânico Boris Johnson e pela relutância da China em participar sem antes definir uma agenda clara.

Richard Gowen, especialista do International Crisis Group, observou que “é importante reconhecer que a principal força motriz por trás da cooperação dos dez membros não permanentes é o mau comportamento dos cinco membros permanentes”.

Vários desses países não permanentes “embarcaram em uma campanha feroz para ganhar seu lugar” no Conselho e “estão pasmos com as disputas entre China e Estados Unidos” que impedem o organismo de “chegar a um acordo sobre a grande crise de nosso tempo”.

Um embaixador ocidental disse, sob condição de anonimato, que os dois blocos precisam um do outro.

São necessários pelo menos nove dos 15 votos no Conselho de Segurança para adotar uma resolução, sem o veto de um dos cinco membros permanentes.