Autoridades norte-americanas decidiram, quarta-feira (14), manter a suspensão do uso da vacina da Johnson & Johnson contra a covid-19 até que se tenha mais informações sobre efeito colateral, que pode ter causado coágulos sanguíneos em algumas pessoas. A crise dos coágulos veio à tona na terça-feira (13), quando a vacina fabricada pela Johnson & Johnson foi suspensa nos Estados Unidos. Órgãos como a Food and Drugs Administration (FDA) e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) investigam seis casos relatados de um tipo raro e grave de coágulo sanguíneo em pacientes mulheres que receberam a vacina no país. Há notícias de que um paciente morreu e outro está em estado crítico.

Nestes casos, um tipo de coágulo sanguíneo denominado de trombose venosa cerebral foi observado em combinação com níveis baixos de plaquetas sanguíneas (trombocitopenia). Todos os seis casos ocorreram entre mulheres com idades entre 18 e 48 anos, e os sintomas ocorreram 6 a 13 dias após a vacinação, afirmou o FDA em nota divulgada.

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Vacina AstraZeneca/Oxford

A suspenção da vacina adotada pelos Estados Unidos ocorre em menos de uma semana depois de reguladores europeus afirmarem que encontraram uma possível relação entre a vacina da AstraZeneca/Oxford e um problema raro de coágulos sanguíneos. A vacina é uma das aplicadas no Brasil, mas não foi suspensa no país.

Segundo a Agência Europeia de Medicamentos (EMA na sigla em inglês), ocorreram 62 casos de trombose venosa cerebral e 24 casos de trombose venosa esplâncnica, sendo 18 fatais, na União Europeia e Reino Unido.

Para o Comité de Avaliação do Risco em Farmacovigilância (Prac), responsável pela avaliação e monitorização da segurança dos medicamentos na Europa, “existe uma possível ligação entre a administração da vacina e a ocorrência de coágulos sanguíneos invulgares combinado com nível baixo de plaquetas”.

Ainda segundo o Prac, os casos notificados ocorreram em veias do cérebro (trombose venosa cerebral), do abdômen (trombose venosa esplâncnica) e trombose arterial, acompanhados por níveis baixos de plaquetas, alguns deles com hemorragia.

Estes casos ocorreram principalmente em mulheres com menos de 60 anos, nas duas semanas seguintes à vacinação, não sendo possível, até ao momento, a definição de fatores de risco específicos.

Quais sintomas um coágulo pode causar no organismo?

Embora a possibilidade de aparecimento destes tipos de coágulos seja muito baixa, o Prac recomenda que as pessoas vacinadas na Europa procurem assistência médica, caso tenham, principalmente nas duas semanas após a inoculação da vacina, algum dos seguintes sintomas:

-falta de ar;

-dor no peito;

-inchaço nas pernas;

-dor abdominal persistente;

-sintomas neurológicos, como dores de cabeça intensas e persistentes ou visão turva;

-pequenas manchas de sangue sob a pele, em locais distintos do local da injeção.

De acordo com dados divulgados pela Reuters, a vacinação com o produto da AstraZeneca foi interrompida ou limitada no Reino Unido, Alemanha, Dinamarca, Noruega, Islândia, Bulgária, Irlanda, Países Baixos, Itália, França, Espanha, Portugal, Suécia e Luxemburgo.

Como saber se tenho um coágulo no corpo?

De forma geral, “o coágulo, que chamamos tecnicamente de trombose, obstrui o fluxo sanguíneo. Então, a pessoa terá sintomas no local onde aconteceu. Esses sintomas são secundários ao acúmulo de sangue naquele órgão, naquela parte do corpo, seja inchaço, vermelhidão e dor. Ou há isquemia, quando diminui a oxigenação daquela parte do corpo. Isso é mais grave, pode ocasionar necrose e dor também”, explica Erick de Paula, membro do Comitê de Hemostasia e Trombose da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) e professor de hematologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O especialista ressalta que a identificação pode ser feita por meio dos sintomas, que são variados conforme o local. O médico pode solicitar exames que vão confirmar a presença de um coágulo, como um ultrassom, por exemplo.

Vacinas trazem mais efeitos positivos que adversos

“Esse fenômeno (de trombose por conta de vacinas) é extremamente raro. A mensagem fundamental é essa, que pode acontecer, mas é raríssimo. Os benefícios superam os riscos. Principalmente no Brasil, onde não há opções (de vacinas), diferente de outros países que há mais opções”, diz Erick de Paula.