Sete dos 22 ministros do governo Jair Bolsonaro participaram nesta quarta-feira, 27, de audiências no Congresso para dar explicações sobre seus trabalhos à frente das respectivas pastas. Diante do clima hostil entre governo e parlamentares, enfrentaram protestos e perguntas mais ríspidas, mas também houve recepções amistosas, com direito a selfie.

Na primeira audiência do dia, um grupo de dez índios, liderados pela líder indígena Sônia Guajajara, que foi candidata a vice-presidente pelo PSOL, aguardava a chegada do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na Comissão de Assuntos Sociais do Senado. Eles protestaram contra a municipalização da saúde indígena. O tumulto do início, porém, contrastou com o clima ameno no restante da sessão.

O clima estava bem mais tenso na Comissão de Educação da Câmara. O ministro Ricardo Vélez Rodríguez, que balança no cargo, foi bastante criticado, mesmo levando assessores, que a toda hora o auxiliavam. Deputados classificaram suas respostas como vagas.

A deputada Tabata Amaral (PDT-SP) cobrou dados do ministro por duas vezes e, diante de respostas que considerou evasivas, pediu que deixasse a pasta. “O senhor não tem respostas. O senhor vem aqui sem dados. É um desrespeito ao Brasil. O senhor não sabe o que está acontecendo.” Vélez rebateu. “Se a senhora não espera resposta, por que faz perguntas?”

O ministro mais aguardado do dia, no entanto, era o da Economia, Paulo Guedes, que, na véspera, havia cancelado sua participação em uma comissão da Câmara. Ele foi à tarde à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e admitiu que faltou no dia anterior para não “tomar tiros nas costas” do partido do governo, o PSL.

“Fui aconselhado (a não ir), tem gente que cuida de mim. Me disseram que o meu partido ia atirar em mim, que a oposição ia atirar em mim e não teria nem relator. Parece que semana que vem não levarei tiro nas costas do meu partido, só pela frente (da oposição)”, afirmou.

Na comissão do Senado, porém, foi duramente questionado e, num dos momentos mais tensos, acusado de mandar a senadora Kátia Abreu (PDT-TO) “calar a boca”, o que negou. Um pouco antes, ao responder a uma interpelação da senadora, disse: “A senhora terá o seu horário”, e não respondeu. Filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) foi ao seu auxílio defender a reforma da Previdência. “O avião está caindo.”

Outra audiência concorrida foi a do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, que encontrou no Senado um ambiente mais favorável que na Câmara, onde chegou a trocar farpas com Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Casa. Houve até risadas quando o senador Jorginho Mello (PR-SC), em meio a elogios, perguntou como Moro estava se sentindo no governo. “O senhor nunca foi muito sorridente”, brincou.

O clima foi ameno também para o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Ex-assessor parlamentar da Marinha, ele apresentou propostas com o microfone na mão, como um palestrante. No fim, tirou selfie com um vereador de Jacundá (PA), que acompanhava a audiência.

Sem pausas

Quem não teve trégua foi o chanceler Ernesto Araújo na Comissão de Relações Exteriores da Câmara. A reunião foi a mais longa do dia – sete horas e intervalo de apenas dois minutos e 57 segundos, como frisou o presidente da comissão, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O ministro precisava ir ao banheiro.

Com tantos ministros no Congresso, o do Meio Ambiente, Ricardo Salles, teve uma audiência esvaziada na comissão da sua área no Senado. Parlamentares justificavam que precisavam se retirar para acompanhar as reuniões com Guedes ou Moro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.