A confiança permitiu que o capitalismo gerasse o tremendo desenvolvimento experimentado pela humanidade nos últimos séculos. Essa é uma das muitas brilhantes constatações do livro Sapiens: Uma breve história da humanidade, best-seller lançado pelo historiador israelense Yuval Noah Harari em 2014. Se você ainda não leu, não perca mais tempo. Harari explica com simplicidade que até a Idade Média não prevalecia a ideia de crescimento. Acreditava-se que a riqueza era, de certa forma, finita e somente aumentava se trocasse de mãos. A mudança se deu quando nossos antepassados começaram a acreditar que poderiam prosperar no futuro.

O historiador descreveu: “Nos últimos 500 anos, a ideia de progresso convenceu as pessoas a confiarem cada vez mais no futuro. Essa confiança gerou crédito; o crédito trouxe crescimento econômico real; e o crescimento fortaleceu a confiança no futuro e abriu caminho para ainda mais crédito”. Essa lógica se mantém até hoje. “A economia moderna cresce graças à nossa confiança no futuro e à disposição dos capitalistas para reinvestir seus lucros na produção”, afirma Harari. No entanto, a confiança não é um estado permanente e imutável. Ao contrário, tem se mostrado cada vez mais volátil.

A confiança é uma percepção que exige constante atenção e cuidado. É uma construção coletiva, interminável e sistêmica. E alicerça todas as relações humanas. Já comentei aqui sobre pesquisas que anualmente constatam a crise de confiança das pessoas nas instituições, no Brasil e no mundo. Em especial, nas empresas, na mídia e nos governos. Esse cenário de perda de confiança traduz-se, portanto, em falta de crédito e investimentos, que são o combustível do crescimento econômico. É essencial que as instituições trabalhem para reverter esse quadro e, assim, construir um ambiente de confiança. Algo que não aconteceu no governo Temer (vide a crise dos caminhoneiros) e o que não sabemos se vamos alcançar com o novo governo, mesmo estando há apenas dois meses das eleições.

No âmbito dos negócios, a falta de confiança é fruto da desconexão entre o que as empresas buscam e quais são as reais necessidades e demandas das pessoas. Esse descompasso agrava-se ainda mais quando amplia-se o entendimento de que, já no presente e ainda mais no futuro, a colaboração é o caminho mais rápido para a inovação. E é a inovação que vai viabilizar os novos saltos de desenvolvimento da humanidade – e do capitalismo.

Resta às empresas dedicarem-se intensamente à criação de espaços de confiança com seus stakeholders e, com muita coerência e transparência, gradativamente recuperarem a capacidade de acumular crédito. Não por acaso, crédito pode significar tanto o capital recebido para um empreendimento futuro, quanto a unidade de confiança que se reverte em credibilidade.