O frágil governo de unidade da Líbia receberá nesta quinta-feira altos representantes oficiais em busca de apoio para a transição política neste país castigado pela guerra, que celebrará eleições históricas em dezembro.

A conferência é celebrada dois meses antes das eleições, organizadas sob um processo de paz patrocinado pela ONU, que visa a pôr fim a uma década de conflito e caos.

Trípoli anunciou a participação da vice-secretária-geral da ONU para Assuntos Políticos, Rosemary DiCarlo, e do enviado para a Líbia, Jan Kubis.

O ministro francês de Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, disse nesta quarta-feira que participaria, assim como autoridades de potências regionais como Itália, Turquia, Arábia Saudita e Egito, segundo a agência líbia LANA.

Líbia e ONU tentam deixar para trás a violência que castigou o país desde que um levante apoiado pela Otan depôs e matou, em 2011, o ex-ditador Muamar Kadhafi.

Uma trégua entre facções oriental e ocidental permitiu instalar em março um governo de unidade, com a missão de organizar as eleições.

As eleições presidenciais estão previstas para 24 de dezembro, mas as legislativas foram adiadas por disputas entre as facções.

A conferência de quinta-feira visa a “reunir o apoio necessário, de forma transparente” para as eleições presidenciais, disse a ministra de Relações Exteriores, Najla al Mangoush, em vídeo publicado no domingo.

A comunidade internacional tem feito pressão para a realização das eleições na data prevista, mas o processo tem enfrentado desacordos sobre as bases legais da votação.

O especialista em Líbia Emadeddin Badi comentou que a base para as eleições “se torna mais precária a cada dia”.

No entanto, ele acrescentou que a conferência busca “capitalizar o momento para que a Líbia se estabilize porque vários países querem ver a Líbia estável”.

– Combatentes estrangeiros –

Mangoush informou que a conferência busca promover “o respeito à soberania e à independência da Líbia (assim como) evitar a interferência estrangeira negativa”.

As potências estrangeiras têm apoiado diferentes partes na complexa guerra líbia e a presença de mercenários e tropas estrangeiras é um dos maiores obstáculos para uma paz duradoura.

A ONU estimou em dezembro a existência de 20.000 combatentes estrangeiros na Líbia.

Eles incluem de russos enviados pelo grupo Wagner, próximo do Kremlin, a mercenários africanos e sírios, bem como soldados turcos enviados por um acordo com um governo de unidade prévio.

O futuro destes combatentes será abordado na agenda da conferência, disse a ministra, acrescentando que a presença destas forças “representa uma ameaça não só para a Líbia, mas para toda a região”.

O país também terá que resolver a integração de suas forças armadas sob um comando único, pois as diferentes tropas atualmente enfrentam umas às outras.

Embora o país teoricamente tenha um governo de unidade, sua facção oriental é controlada pelo homem forte Khalifa Haftar, que poderia se candidatar à Presidência apesar de ser odiado por muitos no oeste líbio.