Mal o caso Microsoft se aproxima do fim e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos já inicia uma nova guerra judicial com base na lei antitruste, que tem tudo para ser tão barulhenta quanto a do software. O banco dos réus dessa vez foi reservado para a Visa e a MasterCard, as duas gigantes que controlam 75% do mercado americano de cartões de crédito. Para o promotor geral assistente Joel Klein, o mesmo que povoou os piores pesadelos de Bill Gates desde o ano passado, as duas empresas de cartões de crédito formam um duopólio: os mesmos bancos integram as duas associações e controlam a emissão de cartões com as duas bandeiras. Uma barreira contra a entrada e o crescimento de concorrentes no mercado americano, na visão do Departamento de Justiça. Visa e MasterCard entenderam o tamanho do rolo em que se meteram e montaram uma operação de guerra para se defenderem junto à opinião pública. O julgamento começa esta segunda-feira.

O caso, segundo o discurso pronunciado em uníssono pelas duas companhias, não passa de uma esperteza da American Express, a terceira colocada no ranking ? que esbarra no poderio das duas líderes de mercado e não consegue ampliar sua fatia no mercado americano. ?A American Express está tentando conseguir nos tribunais o que não conseguiu no mercado livre?, dispara o porta-voz da divisão da Visa para os Estados Unidos, Greg Mueller. De fato, executivos da Amex estão mais que colaborando com as investigações do Departamento de Justiça. O chairman da companhia, Harvey Golub, o mais antigo adversário público das práticas comerciais de Visa e MasterCard, praticamente inspirou o processo e está na linha de frente das testemunhas de acusação. Já seu segundo homem e provável sucessor, Kenneth Chenault, vai depor sobre as frustrações da empresa no mercado.

O principal crime das duas líderes de mercado, na acusação do promotor, é o de impedir que seus bancos associados emitam cartões de outras bandeiras. Além de impedirem a entrada de adversários e obrigarem as demais empresas a montar sistemas e redes próprios, afirma, as duas associações evitam competir entre si, a ponto de a MasterCard engavetar por anos o lançamento de cartões com chips (smart cards) para não canibalizar a Visa. Esses motivos são mais que suficientes, acredita, para que, ao fim do processo, a Justiça decida obrigar os acionistas a ficarem em apenas um dos pools de cartões. Para provar as acusações, porém, o promotor precisará antes explicar que bicho são as administradoras de cartões. Empresas comuns elas não são: do ponto de vista legal, são associações sem fins lucrativos. A munição de Visa e MasterCard para defender-se vem, paradoxalmente, da própria Amex. O consumidor, afirmam, nada ganha em caso de condenação, porque as taxas cobradas pela American Express são mais altas. ?A lei existe para proteger o consumidor, mas o único beneficiado com uma condenação seria a American Express?, afirma Mueller.