A comunidade internacional pediu ao governo do Mali a libertação dos líderes dos protestos para apaziguar os distúrbios e incidentes que afetam a capital do país.

Durante a noite de domingo, Bamako voltou a ser cenário de confrontos, que provocaram o reforço da presença policial nesta segunda-feira em duas das três pontes que atravessam o rio Níger, principais eixos de trânsito na cidade.

Os bancos permanecem fechados, mas o trânsito foi retomado nas pontes que haviam sido bloqueadas pelos manifestantes.

No distrito de Badalabugu, onde os confrontos entre cidadãos e as forças de segurança, que abriram fogo, provocaram cenas de guerra no sábado à noite, duas pessoas feridas não resistiram e faleceram, anunciaram as famílias.

No mesmo bairro, o imã Mahmud Dicko, a quem os fiéis afirmam que desejam proteger de uma detenção, fez um apelo por calma que parece ter sido ouvido por alguns manifestantes nesta segunda-feira.

Mas a tensão persiste na capital, assim como a pressão sobre o presidente Ibrahim Bubakar Keita, que tem a renúncia exigida pelos manifestantes.

Uma conjuntura que gerou preocupação entre os vizinhos do Mali, um país abalado pelo jihadismo (sobretudo no centro e norte) e vários desafios, em uma região marcada pela instabilidade.

Em um comunicado conjunto, os representantes da União Africana, da Comunidade dos Estados da África do Oeste (Cedeao), da ONU e da UE no Mali pediram moderação a todas as partes envolvidas na crise.

No texto, as instituições condenam “vigorosamente” a violência e o uso de força letal por parte das forças de segurança (em uma referência direta ao governo), além de pedir a libertação dos líderes dos protestos.

Vinte opositores, incluindo líderes do Movimento 5 de Junho, estão detidos desde sexta-feira, informou o advogado Alifa Habib Koné.

O Movimento 5 de Junho, uma coalizão heterogênea de líderes religiosos, políticos e figuras importantes da sociedade civil, foi criado ao redor do imã Dicko, muito crítico a respeito do governo Keita.

O Movimento, que afirma ser pacífico, levou milhares de pessoas às ruas de Bamako em três ocasiões desde junho. Diante da recusa do governo de atender suas exigências, na sexta-feira o grupo se declarou em “desobediência civil”.

A tensão no país aumentou desde as eleições legislativas de março-abril e o movimento canalizou os descontentamentos em um dos países mais pobres do mundo, que incluem a violência, a estagnação econômica, os serviços estatais ruins e o descrédito generalizado das instituições, com suspeitas de corrupção.

Além da renúncia do presidente, a coalizão exige a dissolução do Parlamento, a saída dos juízes da Corte Constitucional e a formação de um novo governo.

Como resposta, Keita (75 anos), que governa o país desde 2013, propôs um governo de união nacional. Além disso, ele anunciou a dissolução do Tribunal Constitucional e abriu o caminho para legislativas parciais nas áreas que a Corte Constitucional invalidou os resultados das eleições de março-abril. Mas as promessas não parecem reduzir o clima de descontentamento.