A Comunidade Andina (CAN) concluiu neste domingo sua primeira cúpula em oito anos em Lima, com uma declaração em que os mandatários de Bolívia, Colômbia, Equador e Peru propuseram o avanço da integração, mas não incluíram uma decisão sobre o retorno da Venezuela ao bloco.

Os presidentes Evo Morales (Bolívia), Iván Duque (Colômbia), Lenín Moreno (Equador) e Martín Vizcarra (Peru) se reuniram por cerca de três horas no Palácio de Governo em um encontro que comemorou o 50º aniversário do bloco aduaneiro, um dos mais antigos da região.

A cúpula foi ofuscada pelo terremoto de 8 graus de magnitude registrado durante a madrugada no norte do Peru, deixando um morto. Vizcarra agradeceu a solidariedade dos três países visitantes.

No documento final, os líderes se comprometeram a “avançar na construção de uma visão para o futuro que priorize uma agenda digital andina”.

Além disso, insistiram em reforçar e estender a “interconexão energética entre os países andinos e outros países da região”. O presidente da Bolívia assumiu a presidência rotativa da CAN no domingo por um ano e convocou imediatamente uma cúpula no país em 2020.

Morales propôs “convidar os países do Chile e do Mercosul a assinar um acordo para estabelecer uma estrutura para a interconexão elétrica na América do Sul”.

No final, os quatro países membros também instaram a fortalecer o livre comércio na CAN, promover a igualdade de gênero e saudar o processo de paz na Colômbia.

– Venezuela, fora de agenda –

Apesar da visão comum em vários aspectos, a Venezuela pareceu a maior omissão na declaração final, especialmente depois que o secretário-geral da comunidade pediu na cúpula o retorno do país ao bloco.

“A Comunidade Andina é o instrumento mais adequado para reinserir a Venezuela nos mercados e no comércio quando este país retorna ao longo do caminho da democracia e da estabilidade institucional”, disse Jorge Hernando Pedraza, secretário-geral da CAN, citado em um tuíte da secretaria de imprensa da organização.

“Em suma, a esperança é de que um dia o Chile e a Venezuela voltem e nós teremos uma grande CAN”, acrescentou.

A Venezuela fez parte da organização até sua saída em 2006 devido a divergências sobre a assinatura de acordos de livre-comércio da Colômbia e do Peru com os Estados Unidos.

Neste domingo, embora a crise venezuelana não estivesse na agenda, presumia-se que a situação política e migratória envolvendo o país seria abordada, tendo em vista que Colômbia, Peru e Equador são os países da região que recebem o maior número de venezuelanos que fogem da grave situação.

“É um tema doloroso porque é uma necessidade humanitária (…) não é um tema de um país, mas sim de convocar a preocupação da sociedade do planeta”, disse Pedraza.

– Novo perigo –

O momento da cúpula coincide com um presente complexo para o Mercosul – o outro bloco sub-regional da América do Sul, formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai – e o protecionismo promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A cúpula foi convocada com a expectativa de fortalecer ainda mais as relações dentro do bloco para reposicioná-lo na região. Isso foi sugerido pelo chanceler do país anfitrião, Néstor Popolizio, no sábado, dizendo que a reunião seria uma oportunidade para dar “um renovado impulso político ao processo de integração”.

Para isso, Vizcarra propôs a seus pares no domingo que enfrentassem juntos o desafio da mudança climática e o que ele chamou de “novo perigo” na região: “corrupção que não reconhece fronteiras”. Nenhuma dessas questões, no entanto, foi mencionada na declaração final.

A Comunidade Andina sucedeu o Pacto Andino, cujas fundações surgiram de um acordo em 1969 na Colômbia, na cidade caribenha de Cartagena.