O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, anunciou nesta quarta-feira (8) a nova taxa básica de juros da economia, a Selic. A taxa saiu dos atuais 7,75% ao ano, para 9,25% ao ano.

E com esse cenário de juros altos, aliado a uma inflação que deve fechar o ano acima dos 10%, o poder de compra do brasileiro está bastante limitado neste fim de ano. Não apenas um poder de compra reduzido, mas também uma tomada de crédito mais cara, segundo Maurício Godoi, economista e professor da Saint Paul Escola de Negócios.

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A movimentação do Banco Central, que vêm aumentando a Selic desde o início do ano até agora (era de 2% em janeiro), é uma tentativa de frear a inflação. Na prática, o BC vai tentar reduzir a demanda com preços mais altos e esperar que os estoques das empresas voltem a aumentar. E é aí que o consumidor literalmente paga o preço de uma política polêmica de combate à inflação.

Cenários de compras com os juros mais altos

Pensando na dificuldade que será fazer as compras de fim de ano, pagar as contas e guardar dinheiro, perguntamos aos especialistas como você pode se planejar pensando em alguns cenários básicos: “É melhor comprar parcelado?”; “Devo cair no cheque especial?”; “O que devo fazer neste Natal: comprar ou não presentes e esperar os preços na virada do ano?”.

Compras parceladas

Para Maurício Godoi um bom caminho para você pensar em compras parceladas é ampliar o número dessas parcelas no cartão de crédito, em 10 vezes sem juros, por exemplo. Apesar disso, ele lembra que “o brasileiro está pagando por um produto mais caro, mesmo que parcele”. Sem contar na possibilidade de endividamento lá na frente, complicando a sua vida.

A dica é avaliar a necessidade de comprar aquele produto e evitar uma dor de cabeça maior.

Outro ponto que ele levanta é fazer uma operação de crédito com taxas de juros que não sejam ascendentes. Ele cita o exemplo do financiamento de um carro, que antes acrescia juros de menos de 1% ao mês e hoje roda na casa dos 3% ao mês, fazendo com que o valor do automóvel cresça até 4x o valor inicial. Por isso, se você precisa de crédito, procure taxas menores e mais convidativas.

André Bernardes, especialista em finanças e CEO da Zippi, uma fintech que oferece cartão de crédito semanal para autônomos, adota caminho mais conservador. “Caso seja possível, pague à vista. Se optar por parcelamento, é importante só realizar uma dívida caso esteja dentro do seu orçamento. Caso não seja viável, vale a pena acumular o valor total do que deseja comprar e pagar à vista, pois o reajuste de preços dos produtos tende a ser menor que os juros das dívidas”, indicou o especialista da Zippi.

Cheque especial

Refúgio presente na vida do brasileiro que passa o mês pendurado no banco, o cheque especial é a realização de lucros das instituições financeiras, algumas cobrando até 600% ao ano de juros. Maurício Godoi acredita que o ideal é cair no cheque especial em cenários de curtíssimo prazo, de dois a quatro dias no máximo e não fazer incorporação do cheque especial no salário, como se você estivesse considerando a modalidade dentro da sua fonte de receita.

“Evite utilizar esse recurso como renda extra, pois não é. Mesmo sendo um crédito de fácil acesso e aprovação facilitada, pode virar um inimigo do controle financeiro, pois os juros cobrados variam, mas a taxa costuma ser alta”, complementa André Bernardes.

Compras de Natal: o que fazer?

Para as compras de Natal, as sugestões dos especialistas é separar todo o dinheiro comprometido com as contas fixas e avaliar se, com o que sobrou, você consegue comprar algo necessário, que possa realmente pagar.

“Temos que tomar um certo cuidado, para não cair na armadilha do preço. Então, hoje, com o processo de inflação acontecendo, com a facilidade das operações de crédito, de uma maneira geral, em especial cartão de crédito parcelado em juros, o brasileiro tem que tomar muito cuidado para, primeiro, não pagar mais caro, segundo, não cair na armadilha do ‘10 vezes sem juros e sem desconto’, e ver a necessidade da aquisição deste produto”, disse o economista da Saint Paul.

Não comprar, economizar e esperar um cenário melhor em 2022

Tanto Maurício Godoi, quando André Bernardes, apostam que esse é o melhor cenário para você não se complicar nesta resta final de ano. Após um aumento significativo nas vendas da Black Friday, as varejistas devem retomar preços mais altos e você vai, inevitavelmente, pagar mais caro por um produto. Lembre-se que com o início do ano os boletos de impostos a pagar vão se renovando em cima da mesa.

“O endividamento é um verdadeiro vilão e o início do ano vem acompanhado de diversas contas como IPVA (imposto sobre veículos), IPTU (imposto sobre os imóveis), matrículas de escolas, compra de material escolar e uniformes, reajustes em mensalidades de planos de saúde, alugueis e instituições de ensino. Por isso, a melhor atitude é realizar o planejamento financeiro”, alerta Bernardes.