Com uma inflação galopante e que deve encerrar o ano acima dos 7,27%, segundo dados do último Boletim Focus, o poder de compra real do brasileiro está virando quase uma fábula. Por isso, a pouco menos de 4 meses do Natal, especialistas já indicam que o planejamento para fazer as compras de fim de ano deve ser iniciado agora e a mira está na Black Friday. Isso vai fazer com que você gaste menos dinheiro em ofertas que não são o melhor negócio no final do dia.

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Qual é a melhor hora para fazer as compras de fim de ano?

O consumidor deve, segundo especialistas consultados, se programar para as compras de fim de ano agora, guardando dinheiro, mapeando lojas e marcando presentes que sejam interessantes de se comprar para a casa, para os familiares ou para consumo próprio.

Para Maurício Takahashi, professor de Finanças da Universidade Presbiteriana Mackenzie Alphaville, e Antônio Sá, professor de Pós-Graduação em Inteligência de Mercado, da Saint Paul Escola de Negócios, os consumidores podem pensar dessa forma:

Setembro: mês para iniciar o planejamento do que comprar, guardando um pouco de dinheiro e visitando lojas e sites que vendam artigos do seu interesse;

Outubro e Novembro: no final de outubro os lojistas já começam a antecipar algumas ofertas da Black Friday e este é o momento em que você vai poder comparar os preços listados em setembro. A ideia é chegar às vésperas da Black Friday, marcada para acontecer na última semana de novembro, com o dinheiro já separado e uma ideia mais clara do que comprar.

Dezembro: Se você está preparado para enfrentar trânsito, shoppings cheios e preços nem sempre tão agradáveis, o momento é este. Dezembro é o mês que satisfaz parte da população que segue deixando as compras de fim de ano para a última hora, mas estão abastecidas com parte do 13° salário e bônus que a empresa possa ter concedido no período pré-natal.

E por que agora é a melhor hora para se planejar?

Maurício Takahashi, aponta que o “meteoro Covid-19” forçou um rearranjo nos negócios, atingindo desde grandes varejistas até os nanicos. Com uma luta por sobrevivência ainda em andamento, a oferta é vasta e o consumidor que souber pesquisar vai pagar menos.

“O fato de começar a pensar nessas questões agora, tende a melhorar o processo de compras. Não é um evento, é um processo: ‘a quem presentear’, o ‘quanto gastar’ e, com isso, o ‘que escolher’, melhora o consumo nesse momento que precisamos estar com os pés no chão”, apontou o professor do Mackenzie.

Por isso, a Black Friday será o grande teste para quem quiser se aventurar nas promoções de produtos que estão com preços altos agora.

“Muita gente não compra porque não se planeja, deixa para a última hora e acaba lembrando disso, na véspera do Natal, quando já perdeu a oportunidade de comprar algo mais barato antes. Então, vale a pena esperar por eventos como esse, se planejar para isso, fazer pesquisa e acompanhar o que vai ter a partir de novembro, antecipando a compra de fim de ano”, disse Antônio Sá, da Saint Paul Escola de Negócios.

Além dos alimentos que estão caros, do aluguel que subiu e de outros pontos que pesam no orçamento do mês, o brasileiro ainda está endividado. Segundo o Serasa, 62 milhões de pessoas estão com débitos atrasados neste momento e o índice da Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC) apontou que o endividamento dos brasileiros bateu recorde em agosto, chegando a 72%.

“A grande parte da população está endividada ou ainda vai receber o décimo terceiro. Então, antecipar tanto uma coisa com o fluxo de caixa delas, é delicado, já que elas podem não ter esse dinheiro disponível. Sendo assim, faz sentido que possam esperar um pouco até esses grandes eventos de promoção, valendo a pena começar a pesquisar nesses dois meses de setembro e outubro, para entender o que precisam, aproveitar as grandes promoções no momento certo e não comprar coisas supérfluas”, apontou Antônio Sá.

O que dizem os lojistas

Com a Covid-19 dando sinais de arrefecimento em todo o País e boa parte dos estados afrouxando as medidas sanitárias de contenção do coronavírus, promovendo a retomada da atividade econômica, sobretudo com a reabertura em tempo integral e sem restrição de capacidade das varejistas, os dados de vendas devem voltar a respirar nos próximos dias.

Em junho, o IBGE apontou que as vendas no varejo caíram 1,7% na comparação com maio. Essa foi segunda maior retração para o mês na série histórica iniciada em 2002 e o aumento dos juros pode ter refletido essa desaceleração que pode crescer já no próximo relatório do Instituto. Fora isso, o preço dos combustíveis, do gás, do aluguel, do IPTU e da luz elétrica também subiram, deixando o orçamento do mês pesado e contribuindo para um resultado mensal tão ruim para o varejo.

Aguardando melhora no fluxo de pessoas nos shoppings com o fim das medidas de contenção da Covid-19, principalmente em São Paulo, o diretor institucional da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Luis Augusto Ildefonso, aposta que as lojas terão de se mexer para capturar clientes que estejam nadando junto das incertezas econômicas.

“Com dólar elevado, desemprego alto, menos dinheiro em circulação e juros elevados, teremos um consumidor com o pé no freio. Isto provocará no comércio ofertas especiais, promoções e campanhas publicitárias para atrair o cliente para as compras”, disse o diretor da Alshop, organização que representa redes como Hering, Magazine Luiza, Petz, Riachuelo, McDonald’s, entre outras.