Quando começou a atuar no mercado de locação de automóveis, em 1973, a mineira Localiza tinha uma frota composta por seis Fuscas – todos usados. Na segunda-feira 26, Salim Mattar, presidente e fundador da empresa, deixou claro que, de fato, os tempos são outros. 

 

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Ele anunciou a compra, de uma só tacada, de 85 mil veículos das marcas Fiat, General Motors, Volkswagen e Ford. Trata-se da maior aquisição já feita por um único cliente no Brasil e exigirá um desembolso de R$ 2,5 bilhões. 

 

O negócio se torna mais impressionante ainda, se levarmos em conta que representa 2,5% das 3,4 milhões de unidades que serão produzidos pelo setor em 2010. Para bancar essa fatura, a Localiza pretende lançar mão de várias fontes. 

 

A venda de automóveis que compõem a frota atual responderá por 80% desse montante. O restante sairá de sua receita mensal. “Temos R$ 400 milhões em caixa”, diz Eugênio Mattar, vice-presidente executivo da Localiza. “A entrada de carros novos possibilitará a redução do custo de depreciação”, acrescenta. 

 

A compra em lotes desse tamanho costuma ser vantajosa tanto para o cliente, no caso a Localiza, como para as fabricantes. “Em um negócio como esse, os carros saem com descontos que oscilam entre 8% e 30%”, estima o consultor Lucas Copelli, sócio-diretor da Vallua Consultoria. 

 

Pela ótica dos fabricantes, significa que eles terão encomendas garantidas por um período de 14 meses. Mais que renovar o estoque, a transação permitirá também que a Localiza adicione novos modelos ao portfólio, como o utilitário-esportivo EcoSport, da Ford. 

 

Apesar dos números envolvidos, o contrato com a Localiza não deverá causar um gargalo nas linhas de produção das montadoras. Isso porque o nível de estoque é considerado satisfatório: 318,8 mil unidades em junho, dados mais recentes fornecidos pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). 

 

Além disso, todas elas estão realizando pesados investimentos para dar conta da evolução da demanda doméstica. A Ford é uma delas. Em abril último, Alan Mulally, presidente mundial da montadora, esteve no Brasil para anunciar um pacote de R$ 4,5 bilhões para ampliação de capacidade nas unidades produtivas situadas no País. 
 

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Frota moderna: além do novo Fiesta Sedan (à esq.), da Ford, a Localiza também

fechou contratos para adquirir veículos da Volkswagen, General Motors e Fiat

Além desse aporte, mais R$ 600 milhões foram investidos em uma nova linha de fabricação de motores, inaugurada em dezembro de 2009 em Taubaté. Foi graças a isso que ela já conseguiu despachar o primeiro lote de 500 veículos para a Localiza. 

 

A Ford, aliás, é uma das que mais ganham com a mega-compra. Não é de hoje que ela busca cavar seu espaço junto ao chamado mercado de venda direta: locadoras e frotistas. “São setores estratégicos que funcionam como vitrine para os modelos da companhia”, avalia Oswaldo Ramos, gerente de vendas da Ford. 

 

A expectativa é de que os usuários do veículo venham a se tornar clientes da marca. Por conta disso, sua meta é atingir uma fatia de 11% desses segmentos, volume igual ao que possui no varejo. 

 

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A ambição da Ford está alinhada com a expectativa de crescimento do mercado de aluguel como um todo, que deverá crescer 14% neste ano, de acordo com a Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (Abla). 

 

“A demanda por locação já está maior que a oferta de carros”, diz Paulo Gaba Jr., presidente do conselho nacional da Abla. E a perspectiva é de que o setor se mantenha em ritmo acelerado. No caso específico da Localiza, a ampliação da frota em 15% é vital para consolidar a liderança. 

 

Com faturamento líquido de R$ 1,856 bilhão, ela responde por 24,2% da receita do setor. Como a aquisição de concorrentes não faz parte dos planos da empresa, o jeito é sair na frente das rivais para tentar faturar com a efervescência econômica gerada pelos megaeventos previstos para o País, como a Copa de 2014 e a Olimpíada em 2016.