E este ano não poderia ter começado com expectativas melhores para o nosso ecossistema. Aclamado como “o poderoso ano das startups”, 2020 ganhou esse título depois da ebulição do segmento em 2019: foram cinco novos unicórnios brasileiros, grandes investimentos na área de inovação pela América Latina e o reconhecimento das grandes corporações. Com tanto a celebrar, nem o mais pessimista dos cenários poderia prever uma pandemia. Mesmo com as adversidades, será que 2020 foi um bom ano para as startups? Em alguns aspectos, foi sim! E vou contar o porquê.

O ano começou agitado para o setor já no dia 2 de janeiro, com o anúncio de mais um unicórnio: a Loft, startup que compra apartamentos usados e os revende depois de reformados. Ela iniciou 2020 com um investimento de US$ 175 milhões recebido de fundos internacionais. Apenas quatro dias depois, a fintech Nubank divulgou sua primeira aquisição. Tudo caminhava bem, até tomarmos consciência do novo coronavírus.

A partir daí, a palavra de ordem do ano foi transformação. Mesmo um setor como o de statups, acostumado a disrupções e ambientes de incerteza, teve muito a aprender nos primeiros meses do ano. Foi preciso, primeiro, readequar o planejamento, analisar o caixa, ser criativo e pensar em como se preparar para o novo cenário. Em um segundo momento, avaliar as oportunidades.

Com certeza foi um ano desafiador, mas com as startups se mantendo como tendência. Alguns segmentos que dependiam mais de receitas off-line, como eventos, restaurantes, shows e esportes, foram mais afetados — e possivelmente enfrentarão mudanças mais profundas nos próximos anos. Em contrapartida, outros negócios foram muito demandados e cresceram nesse período. É o caso do EAD (ensino a distância) que fomentou as edtechs. E também do delivery, do e-commerce, das healthtechs (startups de saúde e bem-estar) e da logística.

Dados do Mapeamento 2020, que a Associação Brasileira de Startups acaba de lançar, indicam que 38% delas abriram processos seletivos este ano e apenas 15,4% realizaram desligamentos. Outro dado interessante é que mais da metade das startups residentes do Cubo, maior hub de Inovação da América Latina, cresceu em 2020.

Em relação ao acesso a capital, o ano tem sido atípico. Houve crescimento, especialmente em rodadas de investimentos. Em 2019, as rodadas de Seed (que buscam fundos para apoiar o trabalho inicial de pesquisa e desenvolvimento) eram em torno de R$ 1,6 milhão. Este ano, a média saltou para R$ 2,4 milhões. E, embora não tenha sido um período tão próspero para o surgimento de unicórnios, em setembro houve o anúncio de mais um: a VTex, startup de e-commerce que recebeu aporte de US$ 225 milhões do Softbank.

Outras pautas importantes marcaram o setor este ano. Houve a assinatura do Marco Legal das Startups pela Secretaria Geral da Presidência da República. O documento é um passo fundamental no sentido de trazer maior reconhecimento e personalidade jurídica para a atividade. Por outro lado, as discussões sobre diversidade, que surgiram com muita força no ecossistema de startups, ainda mostram que existe um gap gigante a ser transposto.

Agora nos resta aguardar como serão os caminhos para 2021. Precisamos, acima de tudo, entender como serão os cenários com uma possível vacina para a Covi-19 e a reabertura de todos os setores que ainda operam com restrições devido à pandemia. Quais serão os novos desafios dentro da readequação de rotina de trabalho? Quais os modelos de gestão e as novas tendências de consumo? Independentemente de qualquer externalidade, continuamos positivos no fomento ao desenvolvimento do ecossistema de startups no Brasil.

José Muritiba é diretor-executivo da Associação Brasileira de Startups