Até 2050 o planeta Terra chegará a 9,1 bilhões de habitantes. De acordo com um relatório da Food and Agriculture, entidade vinculada à Organização das Nações Unidas, para atender este forte crescimento populacional a produção global de alimentos terá que aumentar em 70% em relação aos níveis de 2007. Não há outra saída: para melhorar a produtividade as fazendas terão que se tornar cada vez mais eficientes. Em outras palavras, terão que ser mais digitais.

Desde os primórdios, a agricultura sempre teve uma relação íntima com a tecnologia. Estima-se que nossa habilidade de cultivar começou ainda no período Neolítico, quando povos caçadores-coletores observaram que alguns grãos, ao serem enterrados, originavam novas plantas. Esses grupos se fixaram nas terras e passaram a ter mais tempo para observar a natureza e pensar em formas de produzir e consumir alimentos a partir de novas técnicas e ferramentas.

Hoje, mais de 10 mil anos depois, vemos no campo uma série de recursos que estão se integrando para aprimorar os processos agrícolas – de robôs autônomos que selecionam e colhem frutas a fazendas subterrâneas, de Inteligência Artificial (IA) a monitoramento de lavouras por satélite.

Para Simon Blackmore, chefe de agricultura robótica da Harper Adams University, na Inglaterra, presenciaremos uma verdadeira disrupção na produção agrícola nos próximos anos. A fazenda do futuro será (e já está se tornando) totalmente automatizada, com sensores medindo todos os tipos de dados necessários para administrar uma plantação e gerenciar os recursos naturais.

Mas como será essa evolução?

A Inteligência Artificial terá forte presença na fazenda do futuro. Produtores de leite já usam leiteiras robóticas e os fabricantes de equipamentos agrícolas estão testando protótipos de tratores e pulverizadores para lidar com o trabalho de campo sem motoristas humanos. O salto do protótipo para operação comercial tende a ser curto. Uma boa parte das novas máquinas já está chegando ao mercado equipada com eletrônica para controlar as operações com pouquíssima interação humana.

Com regulamentos já em vigor, a tecnologia de drones está pronta para um “boom” também no uso agrícola. Nos próximos 10 anos, segundo um relatório do Bank of America Merrill Lynch Global Research, essa indústria deve gerar 100 mil empregos nos Estados Unidos e movimentar US$ 82 bilhões.

Atualmente já contamos com tecnologias que nos permitem criar soluções totalmente online e capazes de medir a produtividade de áreas agrícolas de qualquer tamanho em apenas um clique. Um cálculo que é feito com base em imagens de satélite com bandas termais para mapear lavouras beneficia não apenas o agricultor, mas também todo sistema financeiro – bancos, empresas de crédito rural, seguradoras e outros agentes do ecossistema, que passam a ter acesso a dados essenciais para análise de perfil do agricultor.

Outra tecnologia que deve se tornar comum é a edição de culturas por genes, permitindo aos cientistas editar precisamente genes no DNA com o objetivo de criar uma variedade melhor de culturas. No futuro, a prática deve possibilitar que os agricultores selecionem tipos de culturas específicas que tenham características como resistência a diferentes doenças, tolerância à seca ou o teor de óleo mais desejável.

E como garantir uma agricultura mais sustentável?

Disponibilidade de água, impactos ambientais e saúde do solo são elementos que continuarão desafiando os produtores no futuro. Mas as novas tecnologias os ajudarão a lidar com essas questões de forma mais eficiente. Há sistemas de monitoramento por sensores e satélites que conseguem estimar a produtividade, previsão e histórico de safras de qualquer área agrícola do mundo, auxiliando na tomada de decisões nos mais diferentes setores e dimensionando o crescimento de plantas, umidade e composição do solo, entre outras informações.

Entre as vantagens deste tipo de tecnologia, podemos citar menor utilização de produtos químicos e menor impacto ambiental, dois elementos fundamentais para a sustentabilidade do planeta, tema que estará cada vez mais na ordem do dia nos próximos anos.

A agricultura interna também é outro fenômeno que vem se tornando popular nos últimos anos, permitindo que grandes quantidades de verduras e produtos frescos sejam produzidos em ambientes urbanos com espaço mínimo e com quantidades muito menores de água do que em uma fazenda tradicional.

São necessários até 34 galões de água para produzir uma cabeça de alface, mas uma empresa sueca com forte atuação em tecnologia para agronomia, utiliza cerca de 0,25 litros para o peso equivalente nas culturas. Trata-se de um novo conceito de “produção agrícola”, que combina agricultura, tecnologia e arquitetura para que o processo de cultivo de alimentos seja mais integrado à vida das pessoas nas cidades.

Fazendas urbanas podem ser tão simples quanto as tradicionais pequenas hortas comunitárias ao ar livre, ou tão complexas quanto as fazendas verticais indoor, nas quais os agricultores pensam em aumentar o espaço em termos tridimensionais. Essas fazendas complexas e futurísticas podem ser configuradas de várias maneiras, mas a maioria delas contém fileiras de prateleiras forradas com plantas enraizadas no solo, água enriquecida com nutrientes ou simplesmente ar. Cada camada é equipada com iluminação UV para imitar os efeitos do sol. Ao contrário do clima imprevisível ao ar livre, o cultivo dentro de casa permite aos agricultores adaptar as condições para maximizar o crescimento.

Se o passado é uma pista para o futuro, no caso da agricultura os produtores continuarão a buscar maneiras inovadoras de garantir nossa sobrevivência. E o Brasil, com sua inegável vocação agrícola, deve liderar as novas tendências do agritech, concorda?

(*) Rafael Coelho é CEO da Agronow, empresa de tecnologia de satélites
para monitoramento de safras e áreas agrícolas