Convidado para ser um dos anfitriões do jantar conduzido pelo badalado chef argentino Francis Mallmann no evento Prazeres da Mesa São Paulo, na noite de 9 de novembro, o chileno Christian Wylie, CEO da Bodega Garzón, passou mais de 24 horas no ar. Voou de Pequim para Londres, de onde fez a conexão para Guarulhos e chegou à capital paulista no meio da madrugada. Às 12h30, contudo, ele já estava pronto para falar à DINHEIRO. No cardápio, um assunto que transcende o mundo dos vinhos, embora derive diretamente dele: The Garzón Club, uma espécie de confraria de alto luxo criada como parte das inúmeras atrações da Bodega Garzón, em Maldonado, Uruguai, que acaba de ser eleita a Melhor Vinícola do Novo Mundo pela influente revista Wine Enthusiast.

Christian foi contratado pelo bilionário argentino Alejandro Bulgheroni, dono do empreendimento, para não apenas comandar uma nova e ambiciosa vinícola onde há dez anos nem sequer havia uma só parreira. Sua missão é fazer da Garzón uma referência global — e não se pode negar que ele tem ajudado a reescrever a enologia do Uruguai ao mesmo tempo em que vem criando grandes atrativos para quem aprecia o estilo de vida que a cultura do vinho proporciona. Nos últimos anos, a Garzón se tornou reconhecida pelos rótulos de qualidade incomparável que elabora e também por ser uma atração turística de luxo a menos de uma hora de Punta del Este. Mas nem todos conhecem seus segredos. Escondido no subsolo da futurista construção há um clube privativo. E um dos motivos da viagem de Christian para a Ásia no início de novembro foi apresentar a um seleto grupo de aficionados a proposta de se tornaram associados à Bodega Garzón – não como investidores, mas como membros desse clube. The Garzón Club.

Muito mais que vinhos: parte dos vinhedos da uruguaia Garzón (primeira foto à esq.), que conta um restaurante de Francis Mallmann; a sala reservada para os membros do clube; e o CEO da vinícola, Christian Wylie. O objetivo é oferecer experiências únicas

Os benefícios incluem a vinificação da própria bebida em qualquer uma das diversas propriedades que a família Bulgheroni possui ao redor do mundo, da Califórnia à Toscana, de Bordeaux à Austrália, passando pela Argentina e Uruguai. Mas não é só: uma adega com capacidade para estocar 120 garrafas fica à disposição de cada sócio, que tem acesso a uma ala restrita da suntuosa Bodega Garzón, onde há degustações exclusivas, aulas de culinária com a equipe de Francis Mallmann (que também comanda a cozinha na vinícola) e uma série de outros privilégios, incluindo um campo de golfe com o chancela PGA Tour, a organização que reúne os jogadores profissionais de golfe nos Estados Unidos. Futuramente, os associados terão também um beach club com spa em José Ignácio, o balneário vizinho a Punta del Este que atrai cada vez mais VIPs.

A lista de atrativos é quase tão grande quanto as restrições para ingressar no clube. “A categoria Founders é restrita a 30 convidados, mas já temos uma lista de espera para quem quiser se associar na categoria Members”, afirma Christian Wylie. Em São Paulo, a apresentação do projeto a um grupo de potenciais interessados se deu a portas fechadas no luxuoso Hotel Tangará. A exigência de ser convidado não é a única barreira: é preciso desembolsar US$ 200 mil para obter o título, além de uma anuidade ainda não divulgada. Muitas das atividades são pagas – o título dá descontos de 20% a 30% em itens como hospedagem nas pousadas que funcionam dentro das vinícolas de Bulgheroni – considerado o homem mais rico da Argentina, com uma fortuna estimada em US$ 5 bilhões e que, apesar de possuir dez vinícolas em sete países, não bebe uma gota de álcool.

Mesmo assim, os vinhos que saem de suas propriedades não param de ganhar prêmios e pontuações surpreendentes (leia os principais no quadro abaixo). No caso da Bodega Garzón, o título de Melhor do Novo Mundo, pelo qual competiram 10 mil estabelecimentos, foi conquistado em apenas dez anos de vida. Claro que o dinheiro ajuda. Bulgheroni não esconde que já investiu cerca de US$ 1 bilhão em seus negócios de vinhos. Desse ponto de vista, e diante da expectativa de que o negócio só tende a evoluir, até que o desembolso de US$ 200 mil para fazer parte do clube não é descabido. Pelo menos não para a turma de bilionários que receberam os primeiros convites — caso dos mexicanos, brasileiros, chineses, taiwaneses e honcongueses que Christian Wylie visitou recentemente.