Se você colocar num papel o que uma pessoa casada e outra solteira gastam (ou precisariam gastar), provavelmente vai concluir que manter a mão esquerda sem aliança pode ser bem econômico. Antes de casar, não existem aqueles gastos com educação dos filhos, saúde da família e listas enormes de compras no supermercado. Para completar, essa fase coincide com a do crescimento profissional, quando você deixa de ser dependente financeiro dos pais e passa a ter seu próprio dinheiro. Sendo assim, o solteiro deveria ter mais dinheiro sobrando na conta e aproveitar a fase para economizar e construir as bases de seu patrimônio. Deveria, mas na prática acontece justamente o contrário. Uma pesquisa feita pela agência de publicidade Salles D?Arcy, de São Paulo, mostra que os descompromissados gastam mais do que os casados em coisas bem menos importantes. Viagens, roupas caras, festas, carros importados, jóias, etc. Só 27% dos homens e 25% das mulheres disseram que guardam pensando no futuro. ?Uma minoria economiza pensando em garantir o amanhã?, diz Maria Ângela Zampol, coordenadora do estudo.

Não que eles não pensem em fazer poupança. Guardar dinheiro, até que eles guardam ? os homens mais do que as mulheres (observe quadro). Mas não tanto quanto poderiam e nem com tanta disciplina. A pesquisa da Salles D?Arcy mostra que as principais razões para um solteiro economizar são a compra de uma casa, viagens ou a troca do carro. Mas, se for preciso, a maioria acaba gastando as economias nas férias, por exemplo. E poucos, muito poucos, pensam mesmo em ter uma reserva. A designer Kuky Bailly, 32 anos, confirma a regra. ?Quero ser feliz hoje, custe o que custar?. Kuky trabalha desde os 17 anos. Não que precisasse. ?Preferi assim porque sempre quis ser independente dos meus pais.? O máximo de economia para o futuro que ela faz é pagar um plano de previdência privada e manter uma poupança ?para alguma emergência?. O resto gasta com roupas de grife, duas viagens internacionais por ano, personal trainer, jantares em restaurantes caros, passeios. Para ela, o momento certo de economizar ainda vai chegar: quando estiver planejando seu casamento. ?Não quero, por exemplo, comprar uma casa sozinha?, conta. ?Quero que meu patrimônio seja resultado de um esforço duplo, ao lado da pessoa certa.?

Já o advogado José Fernando Simão, 26 anos, não pretende esperar tanto. Ele pensa em ter sua casa desde que saiu da faculdade, há três anos. Simão é sócio de um importante escritório de advocacia em São Paulo, ganha o suficiente para sustentar uma família mas ainda mora na casa dos pais, como no tempo em que era estudante. Sua meta é juntar R$ 200 mil para comprar um apartamento. ?Vou conseguir até o ano que vem.? Enquanto isso, ele economiza até 70% do que ganha, todos os meses. Não tem nem carro. ?Quando preciso, uso o do meu pai.? Seus únicos gastos são com viagens (pelo menos uma internacional por ano), livros e contas de restaurante. ?Não hesito em pagar caro num jantar com os amigos?, diz Simão. ?Quero casar e ter filhos, mas antes quero garantir uma vida tranqüila.? José Simão é uma exceção entre seus colegas. E um exemplo difícil de ser seguido. Isso porque as pessoas associam a fase antes do casamento ao momento de curtir a vida intensamente. ?E ter sua própria casa, viajar muito, morar e vestir bem são prioridades?, avalia Guega Rocha, da Salles D?Arcy. ?Mas todos, até os mais gastadores, sabem que deveriam economizar mais.?

O advogado João Carlos Miranda é um desses. Nem todos os meses ele reserva algum dinheiro para os investimentos. Miranda viveu os dois lados da moeda. Foi casado por três anos e, de volta a vida de solteiro, resolveu priorizar sua satisfação. Ele acabou de chegar de uma viagem de 30 dias pelos Estados Unidos e já organiza uma outra para o Nordeste ainda este mês. É exigente na compra de roupas e calçados. ?Passei boa parte da minha vida preocupado em acumular riquezas e constituir família.? Hoje, com 32 anos, Miranda tem dois apartamentos em São Paulo, uma casa de praia, um sítio, carro do ano e não se preocupa mais em poupar. ?Acho que já consegui o suficiente para uma vida tranqüila?, diz Miranda. ?Não sonho em ser milionário.?