O agronegócio representou 26,6% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020, e a estimativa de faturamento dos agricultores e pecuaristas para o ano passado superou a marca de R$ 1,1 trilhão, considerando o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VPB). Esses números ajudam a entender por que, em apenas quatro meses, os Fundos de Investimentos nas Cadeias Produtivas Agroindustriais, conhecidos como Fiagro, passaram a ser considerados uma das melhores opções de aplicação financeira para 2022, principalmente para as pessoas físicas. As ofertas começaram a ser listadas na B3, a bolsa de valores brasileira, em agosto do ano passado. Em dezembro, o site da B3 já relacionava 16 fundos que somavam mais de R$ 3,2 bilhões em cotas. Segundo a Bolsa, cinco deles já são negociados e os demais 11 esperam autorização.

Para compreender esse interesse é preciso ter em mente as vantagens desses produtos. Em primeiro lugar está o alto potencial do agronegócio brasileiro, especialmente quando o dólar está apreciado como nos últimos meses, o que eleva a competitividade de quem exporta. Pesam, ainda, a boa relação entre risco e retorno e a isenção fiscal sobre os rendimentos, em que não há desconto de imposto de renda. O Fiagro é um ativo de renda fixa pós-fixado em taxas CDI+ e segue a mesma base regulatória dos Fundos de Investimento Imobiliário (FII). Portanto, ele não nasceu do zero. Seu funcionamento já era conhecido dos investidores. O que muda em relação aos FIIs é a composição. No Fiagro entram majoritariamente Certificados Recebíveis do Agronegócio (CRA), além de Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), Fundos de Investimento em Participação (FIP) e Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FDIC).

Essa soma de ativos amplia as possibilidades de investimentos (e de retorno), além de permitir o acesso a papéis como os CRAs a partir de valores mínimos bem acessíveis. Segundo a head de Investment Banking da Lifetime, Thais Teixeira, “dependendo da plataforma na qual será feita a negociação, o investimento pode variar de R$ 1 mil a R$ 5 mil, enquanto uma compra direta de CRA partiria de R$ 10 milhões”. Por isso, para o CEO da BRZ Investimentos, Ricardo Propheta, o Fiagro tende a crescer de forma exponencial. “Pela soma de fatores como a importância do agro e o incentivo fiscal, esta será uma das categorias mais dinâmicas. Impossível não se desenvolver”, afirmou o executivo. “É uma novidade que melhora investimentos tradicionais da pessoa física.”

A aplicação nos Fiagros não exige conhecimento prévio sobre lavouras nem rebanhos. E a maior preocupação dos investidores deve estar mesmo em seu rendimento. Contudo, esses fundos acabam criando uma conexão entre a população urbana e o desenvolvimento do agronegócio, que passa a ter novas fontes para suprir uma ampla carência de recursos. Enquanto o Plano Safra 2021/22 disponibilizou mais de R$ 251 bilhões em linhas de crédito, a demanda do setor passa de R$ 750 bilhões, segundo dados da Frente Parlamentar da Agropecuária. O deputado federal Arnaldo Jardim, autor do Projeto de Lei 5191/2020, que criou o Fiagro diz que “o setor propulsor de todos os demais, porém está sub-representado no mercado brasileiro de capitais”.

SEM PRESSA Como na produção agropecuária, em que tudo tem seu ciclo e seu tempo, a aposta no Fiagro deve ser vista como aplicação de longo prazo. Para André Ito, sócio fundador da MAV Capital, “o investidor terá uma renda mensal sobre o aporte, mas não deve comprar buscando uma valorização imediata no mercado secundário”, disse. E tudo indica que essa paciência virá acompanhada de alguma tranquilidade. Como o agronegócio é multissetorial, a composição das carteiras de investimentos também é variada, que minimize os riscos.

Vale destacar que no meio rural há variáveis bem peculiares, e por isso costuma-se dizer que o campo é uma indústria a céu aberto. No ano passado, lavouras de soja, milho, café, laranja, entre outras foram brutalmente prejudicadas por períodos de seca e fortes geadas. As preocupações vêm também das intempéries nas relações comerciais internacionais: as exportações brasileiras de carne bovina caíram pela metade entre setembro e dezembro de 2021 com a interrupção das compras pelos chineses. Segundo Thais, da Lifetime, “tudo isso impacta muito. Mas o risco pode ser mitigado, ou pulverizado, porque o Fiagro é um pool de opções”.

O cenário para investimentos em 2022 traz ainda uma combinação de fatores que não acontece todo ano: variações de taxas de juros e da inflação somadas aos humores de uma eleição presidencial. Mas para Propheta, CEO da BRZ Investimentos, “o que influencia mesmo é o clima”. Esse quadro só aumenta a importância da escolha da gestora dos fundos, que precisa ter certeza sobre qual solo está pisando. “É essencial saber quem fará a análise da relação risco e retorno e como vai alocar os recursos para os investimentos”, disse o executivo, sugerindo atrelar os ganhos da gestora aos do investidor.