O mercado global de carbono é avaliado em US$ 200 bilhões (R$ 1,1 trilhão). É uma cifra representativa, mas que pode crescer muito – e o Brasil tem potencial para estar à frente desse movimento. Mas enquanto China, Canadá e alguns países da Europa já trabalham em um modelo voluntário, que premia os produtores comprometidos com a adoção de práticas de agricultura regenerativa, por aqui ainda estamos alguns passos atrás. Ainda assim, há iniciativas de grandes empresas que preparam o agronegócio brasileiro para esse mercado futuro.

Um exemplo é a Bayer, que lançou uma nova etapa de sua iniciativa Pro Carbono. O objetivo é oferecer consultoria para a implementação de técnicas mais sustentáveis e fazer a mensuração dos ganhos de produtividade e rentabilidade durante três anos. “Trabalhamos com um conceito de ecossistema de carbono. Como capacitar o agricultor que já tem um perfil socioambiental correto, com um solo bem preparado, para lá na frente ele poder acessar o mercado de carbono”, disse Fábio Passos, Head de Carbon Venture da Bayer, à DINHEIRO.

No ano passado, a multinacional lançou um projeto-piloto, com 414 agricultores. A meta agora é ao menos dobrar esse número, podendo chegar a mil produtores cadastrados. Para participar é preciso oferecer um talhão de 30 hectares para o monitoramento das práticas. Ele não pode ter nenhum passivo socioambiental. E também deve ter uma licença do FieldView, a ferramenta de agricultura digital da Bayer. Esse sistema é importante por conta do georreferenciamento do talhão e da variedade de mapas que podem ser sobrepostos para mensurar os ganhos.

A partir do momento em que adere ao programa o agricultor já tem acesso a consultorias especializadas para ampliar as boas práticas que já implanta em sua propriedade. “A maior parte dos produtores brasileiros adota práticas sustentáveis em algum nível. Queremos ajudá-lo a fazer ainda melhor. E ajudar a reconhecer aqueles que já fazem muito”, afirmou Passos.

O grande gargalo ainda é a mensuração do carbono capturado. O processo todo é caro, o que limita sua utilização em larga escala, e é preciso adotar métricas aceitas pelo mercado internacional. A Embrapa faz parte da iniciativa e vem testando modelos de amostragem que podem tornar a tecnologia escalável. “Em três anos, vamos construir essa solução com os agricultores, com a Embrapa, com startups e com certificadoras”, disse Passos.

O acesso aos créditos de carbono ainda está um pouco distante, mas essa jornada passa pela educação dos agricultores e pelo reconhecimento das boas práticas por parte do mercado.