A compra do Banespa pelo Santander vai mudar a concorrência no varejo nacional. Pela primeira vez desde que europeus e americanos começaram a fazer aquisições, agora é real a possibilidade de que um deles, o Santander, reduza de fato os preços ? ou seja, os juros ? nas agências, como estratégia para ganhar mercado e justificar seu elevado investimento. Os espanhóis, que já oferecem produtos mais agressivos que os dos bancos nacionais, como o cheque especial com juros decrescentes, precisarão ser mais arrojados para começar a ganhar dinheiro rapidamente com o Banespa e afastar as dúvidas dos acionistas sobre o valor pago na compra. Os bancos brasileiros, que tanto combateram a venda do Banespa para um estrangeiro, poderão acabar obrigados pela competição a apertar o altíssimo spread entre o custo de captação de recursos e as taxas de aplicação. A diferença, uma das mais altas do mundo, é hoje a principal fonte de lucros para as instituições brasileiras.

O leilão praticamente encerrou a era das privatizações de bancos estatais. Restam à venda apenas instituições minúsculas, como as do Piauí e do Maranhão, incapazes de alterar o equilíbrio de forças do mercado. Ainda há 37,9% dos ativos do sistema em poder de bancos estatais, mas quase tudo nas mãos dos intocáveis Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. A exceção é o gaúcho Banrisul, que não irá para o martelo enquanto o Rio Grande do Sul estiver sob comando do PT. Quem quiser conquistar mercado rapidamente, então, vai ter que buscar bancos privados de médio porte, como Mercantil de São Paulo e Rural. São instituições que têm resistido ao assédio, principalmente dos estrangeiros, e que vão querer agora impor suas condições.

A ofensiva dos estrangeiros provocou reação dos nacionais. Os derrotados no leilão do Banespa aproveitaram os seis anos de controle federal no banco para conquistar clientes da instituição. E a guerra continua. A Nossa Caixa Nosso Banco, que restou com o Estado de São Paulo, abriu crédito para antecipar o 13º salário para funcionários estaduais. O produto belisca a clientela do Banespa. A Nossa Caixa obteve autorização para brigar também pela conta-salário dos funcionários.

 

A via das aquisições, inaugurada com a venda do Bamerindus ao HSBC, deu aos estrangeiros uma fatia de 27,8% dos ativos do mercado. Sem esse atalho, vai entrar na pauta dos bancos líderes a briga pelos clientes de baixa renda, excluídos do sistema financeiro. É um público com cacife baixo, mas com potencial para usar produtos como cartões de débito, poupanças e seguros-saúde. Só 25% da população tem acesso a serviços bancários