Suspeita-se desde o início deste ano que a prosperidade da Nova Economia não é eterna. Com a queda das bolsas americanas, em março, mais de uma voz ergueu-se para avisar que o gordo balão da tecnologia iria murchar. O que ainda não tinha ocorrido era um analista autorizado como Michael Mandel, economista e editor da revista BusinessWeek, produzir um livro denso e bem pesquisado antecipando uma depressão. Atenção ao substantivo: não se trata de um recuo nem de um pouso suave ou turbulento. O que The Coming Internet Depression (Basic Books, US$ 24) sugere é uma crise econômica com as cores dramáticas da Grande Depressão de 29 ? desemprego, quebradeira e estagnação ? atualizada para incluir Internet, derivativos e US$ 100 bilhões anuais em capital de risco. Em poucas palavras, é o reverso da onda de prosperidade que banha os EUA há nove anos e que tem na tecnologia seu motor e nas finanças seu combustível. ?Se os responsáveis pela política econômica hesitarem, se não se movimentarem rapidamente para neutralizar a queda de preços de ativos e a queda de demanda por tecnologia, então a recessão pode se metamorfosear em algo muito mais sinistro: uma Depressão da Internet?, escreve Mendel. ?Tal depressão começaria no setor de tecnologia e devastaria toda a economia.? Tudo isso está repleto de condicionalidades, mas ainda assim assusta.

O jornalista e professor tem a favor do seu pessimismo o fato de ter sido dos primeiros a perceber a chegada da Nova Economia. Atribui-se a ele um papel importante na cunhagem e na disseminação do conceito ? a respeito do qual, aliás, ainda não existe consenso acadêmico. Se não houvesse outra razão, seu livro mereceria ser lido pela explicação minuciosa e clara que oferece para a reorganização da economia americana sob a égide da explosão da Bolsa e do processamento de informação. Estão ali, entrelaçadas, a inovação tecnológica e a revolução financeira; o capital de risco e a estratégia macroeconômica do Federal Reserve. Posto da forma como põe o autor, tem-se a impressão de que havia nos EUA uma conspiração para criar um ambiente favorável ao surgimento dessa Nova Economia. Da mesma forma, e com a mesma verve, seu raciocínio conduz à conclusão de que a água que moveu as pás do moinho está voltando morro acima, e provocando movimento na direção oposta. É o fim do ciclo virtuoso e o começo do outro, pesaroso. Mas isso não significa que a economia high tech acabou. Ao contrário, ela veio pra mudar a economia ? na prosperidade e, possivelmente, na crise.