Os bonobos, nossos parentes primatas altruístas, pacíficos e lascivos, são conhecidos por suas sociedades dominadas por fêmeas, em contraste com os chimpanzés, mais violentos e patriarcais.

O que não sabíamos até agora era o papel desproporcional que as mães de bonobos desempenham para garantir que sua prole tenha uma vida sexual frutífera: desde usar sua posição para garantir que seus filhotes machos conheçam fêmeas atraentes até interferir nas tentativas dos rivais de acasalar.

O comportamento foi descrito em um estudo publicado nesta segunda-feira (20) na revista Current Biology, que descobriu que os machos bonobos cujas mães viviam em seus grupos eram três vezes mais propensos a gerar filhos do que os demais.

“Esta é a primeira vez que podemos mostrar o impacto da presença da mãe em um traço muito importante da adaptação masculina, que é a sua fertilidade”, disse Martin Surbeck, primatologista do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária, em um comunicado.

“Ficamos surpresos de ver que as mães têm uma influência tão forte e direta sobre o número de netos que recebem”, acrescentou.

Para o estudo, Surbeck e colegas observaram populações selvagens de bonobos na República Democrática do Congo, bem como populações selvagens de chimpanzés na Costa do Marfim, Tanzânia e Uganda.

Eles descobriram que tanto as mães de bonobos quanto as de chimpanzés tentaram ajudar seus filhos, mas os bonobos tiveram muito mais sucesso porque as posições mais altas de suas comunidades são dominadas por fêmeas.

As comunidades de chimpanzés, por outro lado, são dominadas por machos que competem pelo status alfa.

“As mães dos bonobos agem um pouco como passaportes sociais”, disse Surbeck à AFP. “Os filhos, próximos às suas mães, também são muito centrais no grupo e têm acesso a posições no grupo que permitem que eles interajam mais com outras fêmeas, incluindo a cópula”.

“Se há uma fêmea que é muito atraente, você vê mães em volta delas, e na sombra de suas mães estão os machos”, acrescentou.

Por outro lado, eles descobriram que se uma mãe perdia sua alta posição, seu filho também caía na classificação e, posteriormente, tinha menos sucesso em suas tentativas de acasalamento.

Curiosamente, as mães de bonobos não se esforçaram por suas filhas, nem as ajudaram a criar a prole.

A hipótese atual de Surbeck é que, uma vez que as filhas bonobos deixam a comunidade e os machos permanecem, gastar tempo com esse esforço pode não valer a pena para as mães, do ponto de vista evolucionário.

A equipe acredita que agora tem evidências da chamada “hipótese da avó”: que uma fêmea pós-reprodutiva pode dar continuidade a seus genes garantindo o sucesso reprodutivo de seus descendentes.

É uma ideia que os antropólogos aplicaram aos humanos e Surbeck acredita que também pode ser o caso nas populações de bonobos.

“O interessante agora é que, nos bonobos, temos esse mecanismo, aparentemente permitindo que as fêmeas façam isso, mas curiosamente não através de suas filhas, e sim de seus filhos”, disse à AFP.