Num país com elevadíssima concentração de renda, no qual as 26 capitais e o Distrito Federal respondem por 33% do Produto Interno Bruto (PIB), as chances de alguém se dar bem fora dos grandes centros é sempre reduzida. Especialmente quando a opção é empreender tendo por base produtos e serviços que exijam uma ampla malha de distribuição. No campo da teoria econômica, esse pensamento faz todo sentido. Mas, como sabemos, toda regra embute muitas exceções. Uma delas é o casal Eric Vaz de Lima e Sibele que escolheu a minúscula Severínia, cidade de 15 mil habitantes no interior de São Paulo, como ponto de partida da Vazoli, intermediadora de empréstimos, financiamentos e seguros.

Eric Vaz de Lima
Ao lado da esposa Sibele, o paulistano Eric Vaz de Lima transformou a pequena corretora de seguros numa estrela ascendente do setor de intermediação financeira

O negócio foi criado em 2008 com o objetivo de complementar a renda do casal, que se conheceu na faculdade de administração, em Olímpia, cidade na qual fixaram residência. Hoje, Eric e Sibele, ambos com 37 anos, comandam uma rede composta de 100 filiais espalhadas por todo o país e cujo volume de empréstimos, financiamentos e seguros vendidos está na marca de R$ 300 milhões, por ano. “Somos umas das principais empresas independentes do setor, no Brasil, habilitados para distribuir produtos financeiros de 20 bancos”, diz ele, com indisfarçável ponta de orgulho.

E não é para menos. Afinal, nos 10 anos que separam a inauguração da primeira unidade até o estágio atual, muita coisa aconteceu. Não apenas neste setor, como também na trajetória e na vida do casal. Quando a Vazoli ainda dava os primeiros passos, operando como uma minúscula corretora de seguros, Eric foi demitido do banco onde trabalhava como gerente. Na sequência, quem perdeu o emprego foi Sibele que, semanas depois, descobriu estar grávida da primeira das duas filhas do casal. Sem conseguir retornar ao mercado, Eric resolveu cuidar do pequeno escritório de venda de seguros.

Na lida do dia a dia, ele percebeu duas coisas: a demanda por crédito era crescente, apesar de existir um grande número de jogadores no segmento. A outra era que Severínia era pequena demais para quem desejasse se tornar um empreendedor de sucesso. Foi aí que Eric decidiu dar um passo ousado e abrir uma filial em Olímpia, município com população três vezes maior do que a da terra natal da Vazoli.

Ganhos em escala

Só que a esta altura, os gastos já estavam bem maiores do que os parcos rendimentos do casal. “Não tínhamos dinheiro para nada. Nem para comprar a mobília para equipar o novo escritório”, recorda. Para se diferenciar da concorrência – a cidade contava com 16 financeiras, além de bancos – o casal lançou mão dos ensinamentos obtidos nas aulas de marketing, na faculdade. Além disso, apostou nos negativados (jargão usado para pessoas com restrições creditícias) e embarcou na onda do empréstimo consignado. Hoje, este produto representa 70% do volume de negócios.

A virada, no entanto, veio apenas em 2011, quando Eric decidiu formatar um modelo de franquia, rebatizando a empresa para Vazoli Franchising. “Levei um ano fazendo estudos até chegar ao melhor modelo”, conta. Neste período, ele passou por todas as etapas do negócio. Foi vendedor na porta da loja (profissional conhecido como pastinha), negociou comissão com bancos, cuidou da contabilidade e visitou clientes.

Como o jogo mudou

Para se manter no mercado e crescer, de forma sustentável, o casal adotou uma postura bastante conservadora na hora de recrutar parceiros. De cada 100 interessados, apenas um se torna franqueado. Os que são aceitos têm de se submeter a um rigoroso escrutínio que inclui até mesmo a aprovação do local onde será instalada a unidade. “Mesmo com tantos cuidados já cometi erros de avaliação”, confessa Eric.

Ao contrário do sistema convencional de franquia, baseado no pagamento de royalties, a Vazoli recebe uma porcentagem dos negócios gerados pelo parceiro. Aqueles que se esforçam e atingem um grande volume, são isentos da taxa de franquia caso desejem abrir mais uma unidade. Dependendo da região, as transações mensais oscilam entre R$ 200 mil e R$ 1 milhão.

Para ampliar as oportunidades de ganhos, o fundador da Vazoli aposta na tecnologia e também na diversificação do portfólio. A ideia é criar uma plataforma digital, para atrair novos clientes, e agregar serviços como cobrança e renegociação de dívidas.