A atração de investimentos externos é um dos fatores-chave na estratégia da equipe econômica para garantir a retomada do crescimento. A reforma da Previdência é o cartão de visitas que vai sinalizar a solidez do País e dar sinal verde aos estrangeiros interessados em ativos brasileiros. A decisão do investidor é complexa e leva em consideração fatores como o ambiente político, que costuma ser avaliado como pano de fundo para o bom funcionamento da engrenagem econômica. Nesse quesito, o Brasil não aparece nada bem no levantamento feito pela Marsh, de corretagem de seguros e gerenciamento de riscos, em parceria com a Fitch Ratings. Dados do Mapa de Risco Político de 2019, obtidos com exclusividade por DINHEIRO, sinalizam riscos operacionais, políticos e econômicos no curto prazo que podem afastar a entrada de capital.

Ao analisar 200 países, a consultoria colocou uma lupa em fatores como a capacidade dos governos proporem e implementarem políticas, buscam a estabilidade social e as ameaças imediatas à capacidade de governar, como riscos de golpes, por exemplo. Para medir o grau de risco de investimentos, foi dada uma nota de 1 a 100 para cada país. Todos os que somaram pontos abaixo de 60 apresentam alguma instabilidade política. É o caso do Brasil. O País ficou mais mal avaliado na classificação deste ano, com uma nota 56. Esse rating havia melhorado em 2018 (57,5) em relação ao período anterior (57,2).

A expectativa de que a eleição presidencial ajudasse a elevar a nota não se confirmou. O relatório classifica o presidente Jair Bolsonaro como “populista de direita”. Segundo a análise, apesar de a equipe demonstrar compromisso com as reformas, provavelmente haverá retrocessos públicos significativos capazes de dificultar uma coalizão duradoura no Congresso. E apontam o risco de as “tendências autoritárias” causarem descontentamento público caso Bolsonaro não entregue melhoras na economia e na redução da violência.

Criado há nove anos, o relatório é usado por mais de 1.000 multinacionais. Segundo Javier Duran, diretor de gerenciamento de risco da Marsh Brasil, o mapa surgiu por uma demanda de clientes para “os riscos geopolíticos crescentes em todo o mundo.” O material é usado pela consultoria para estruturar a mitigação de riscos em casos de protecionismo, embargos e sanções comerciais ou mesmo na avaliação de restrições de pagamentos em moeda estrangeira.

Duran explicou que é muito ruim quando uma “empresa não tem controle como, por exemplo, na nacionalização de uma fábrica após medida unilateral do governo”. Além do Brasil, a maior parte dos países da América Latina aparece com notas abaixo de 60 pontos. As exceções são Uruguai, que tem um rating de 62.7, e o Chile, com 70.5. Há um sentimento de piora generalizado, como consequência do aumento do protecionismo no continente. Para quem decide tomar mais risco, a solução é adotar medidas mitigadoras como seguros e créditos específicos. A aprovação de uma reforma da Previdência robusta deve reduzir esses custos e tornar o Brasil mais atrativo para os investimentos estrangeiros.