Pioneirismo não garante o primeiro lugar. Pelo menos não por muito tempo. Quando há seis anos a Netscape lançou no mercado o programa Navigator, criou e arrebatou de um só golpe 90% de um mercado que dobrava de tamanho a cada dois meses. Era o mercado dos navegadores para Internet, que transformaram a rede no que ela é hoje em termos de audiência e de conteúdo. Até então, a Internet era um brinquedo de universitários que não oferecia nada além da troca de e-mails. Foi com o Navigator que o termo inglês browser, que significava, literalmente, o ato de fuçar as prateleiras das livrarias sem comprar nada, se universalizou. Pois a empresa que deu o pontapé inicial em todo esse processo hoje está relegada à mais absoluta irrelevância. Entre os anos de 1997 e 1998, a produtora de programas foi ultrapassada pela Microsoft e seu navegador, o Internet Explorer, e desde então não se recuperou. ?90% dos usuários que acessam o Terra usam o Explorer. Foi uma mudança impressionante?, diz Sérgio Pretto, diretor de tecnologia do portal.

A felicidade da Netscape começou a minguar em dezembro de 1995, quando Bill Gates, o todo-poderoso da Microsoft, se deu conta de que a Internet existia e poderia empurrar seu império para a marginalidade mercadológica. Gates atacou com virulência. O Explorer passou a ser oferecido gratuitamente na rede, como já acontecia com o Navigator. Em uma semana, mais de um milhão de usuários baixaram a versão 3.0 do programa direto dos computadores da empresa. A violência das armas empregadas pela Microsoft ? que exigia, entre outras coisas, que os fabricantes de micros instalassem o Explorer na memória das máquinas que saíam da fábrica ? chamaram a atenção da Justiça americana. Acusada de concorrência predatória e abuso de monopólio de mercado, a Microsoft está ameaçada de ser dividida em três diferentes empresas ? para que não possa repetir contra ninguém o estrago que causou à Netscape. Mesmo assim, a Microsoft segue empenhada em colocar seu navegador em todos os lugares possíveis. O objetivo, muito mais do que conquistar os poucos recalcitrantes que ainda usam o Netscape, é fazer sucesso junto aos novos usuários, que ainda não conhecem a rede. ?Eles são mais numerosos que os usuários do Netscape e não têm opinião formada sobre os navegadores?, afirma Jorge Tung, gerente de produtos da Microsoft no Brasil.

Embora a Microsoft tenha se tornado abertamente dominante na rede, os grandes portais ainda produzem material para os dois programas. ?Não podemos permitir que o nosso conteúdo seja perdido por causa de um ou outro browser?, diz Caio Túlio Costa, do Universo Online. Mas a realidade é que o Netscape Navigator está desaparecendo. Esperava-se que isso pudesse mudar em 1998, quando Steve Case, dono da poderosa America Online, acertou a compra da Netscape por US$ 4,2 bilhões. A prova mais contundente de que essa ressurreição não aconteceu está no fato de a America Online não distribuir mais a seus assinantes a última versão do Navigator e, sim, a atualização mais recente do Explorer. O uso secundário que Case está dando para a Netscape é incliná-la, cada vez mais, para os portais de comércio eletrônico. São eles o Netcenter, que acolhe 20 milhões de freqüentadores, e o Netbusiness, dedicado às empresas com menos de dez empregados. É um finzinho triste para a empresa que uma vez começou um mundo novo, a Internet.