A Comissão Europeia subiu o tom nesta terça-feira (23) com o governo italiano, uma coalizão de extrema direita e antissistema, para forçá-lo a avaliar seu plano de orçamento para 2019, algo sem precedentes na história do bloco.

“Pela primeira vez, a Comissão exige que um país da zona do euro revise o seu plano de orçamento”, declarou o vice-presidente executivo comunitário, Valdis Dombrovskis, em coletiva de imprensa em Estrasburgo (França).

A União Europeia (UE) vê no plano de orçamento italiano “um desvio claro, assumido e, para alguns, reivindicado”, ressaltou, por sua vez, o comissário europeu para os Assuntos Financeiros, Pierre Moscovici.

Na sexta-feira passada, Bruxelas advertiu Roma, apontando em uma carta um desvio fiscal “sem precedentes” desde 2013 em seu plano, ao estimar um déficit de 2,4% do PIB para 2019, superior ao 0,8% prometido pelo executivo italiano anterior.

A preocupação é maior considerando os atuais 131% do PIB da dívida pública da terceira economia da zona do euro.

“A Itália deve continuar seus esforços para reduzir sua dívida”, acrescentou Moscovici.

A Itália, cuja resposta à carta de sexta-feira não convenceu a Comissão, tem agora três semanas para apresentar um orçamento revisado, sob pena de eventuais sanções de longo prazo de até 0,2% de seu PIB.

Antes do anúncio da Comissão, o vice-primeiro-ministro italiano, Luigi Di Maio (Movimento 5 Estrelas, antissistema), assegurou que “a partir de amanhã”, quarta-feira, irá continuar explicando sua lei de finanças.

“Nós ouvimos a todos, mas não vamos voltar atrás”, disse o ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, líder do partido de extrema direita Liga e homem forte do executivo,

– Itália não é Grécia –

A margem de manobra da Comissão é limitada, entre a disposição de mostrar firmeza para garantir sua credibilidade e outra de dramatizar para evitar um confronto frontal com Roma que amedronte os mercados.

Klaus Regling, diretor-geral do Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM) encarregado de ajudar os países da zona do euro em dificuldades, relativizou a situação e assegurou que a Itália não era “a próxima Grécia”.

O diálogo entre Roma e Bruxelas será seguido de perto pelos demais 19 países da zona do euro, sujeitos às mesmas regras fiscais que a Itália, como a França, a segunda economia da Eurozona.

“Ninguém pode se livrar dessas regras que são as mesmas para todos”, disse o ministro francês da Economia, Bruno Le Maire, para quem “os italianos também estão interessados ​​em ter regras sólidas, uma moeda estável”.

O confronto entre a Itália e a Comissão ocorre num momento em que o bloco acaba de deixar para trás anos de crise, após o crash financeiro mundial, mas não suas consequências como o nível de desemprego.