Um ano depois de ter arrematado a Comgás, por R$ 1,6 bilhão, os principais acionistas ? British Gas e Shell ? sorriem satisfeitos. A materialização desse sorriso pode ser vista no rosto do argentino Oscar Prieto, presidente da empresa brasileira. Ele é um especialista na reorganização de companhias recém-privatizadas ? antes de assumir o desafio no ramo de gás trabalhou na Light e na geradora argentina San Nicolas. De todas as suas experiências, no entanto, esta é a que tem apresentado resultados mais rápidos. ?A Comgás é a menor empresa onde trabalhei, mas a que encontrei em melhores condições?, diz Prieto. Entre suas funções está a de transformá-la na maior fornecedora de gás natural do Brasil, mesmo com o avanço dos concorrentes. O momento é propício, já que o governo está incentivando a construção de termelétricas movidas a gás para evitar a falta de energia. ?A Comgás tem de aproveitar enquanto as concorrentes ainda não têm estrutura para atrair novos projetos?, diz Petros Georgios, analista da Sudameris Corretora.

Prieto tem consciência da urgência. Enquanto aguarda o sinal verde dos controladores no Exterior, acompanha atentamente o andamento de novos projetos. E revela as ambições da Comgás. ?Das 49 centrais previstas no programa do Ministério das Minas e Energia, 14 estão dentro da nossa área de concessão?, afirma. Se todas vingarem, completa, a Comgás terá possibilidade de fornecer de 8 a 12 milhões de metros cúbicos de gás por dia. Esse volume pode gerar entre 2 e 3 mil megawatts de energia, cerca de 10% do consumo de energia do Estado de São Paulo. Nada mal para uma empresa que estava distribuindo 3,2 milhões de metros cúbicos diários à época da privatização, em abril de 1999. Neste primeiro ano sob controle privado, a Comgás alcançou um crescimento de 50% na distribuição. Novo aumento, desta vez de 14%, acontecerá a partir desta semana, quando começa a fornecer combustível para a usina de Piratininga, que está substituindo o óleo combustível por gás natural. Com isso, o faturamento deverá pular dos R$ 340 milhões em 1999 para R$ 510 milhões em 2000.

Como quase a totalidade de seu faturamento vem do fornecimento industrial, Prieto reza para que os projetos de novas termelétricas saiam de fato do papel. Enquanto isso não acontece, a Comgás terá tempo para investir na expansão de sua rede de distribuição. No ano passado ela foi ampliada em 170 quilômetros, com investimento de R$ 60 milhões. Neste ano, serão destinados mais R$ 170 milhões para aumentar a rede em outros 320 quilômetros. Prieto confessa que é difícil estruturar um crescimento tão rápido em curto espaço de tempo. ?Se tivéssemos mais gasodutos prontos, estaríamos vendendo o dobro do volume atual?, diz.

A companhia está apostando também no aumento da frota movida a gás natural. Firmou um compromisso com a BR para a construção de mais 20 postos de abastecimento até o fim do ano, elevando a 41 o número de pontos de venda na cidade de São Paulo. A seguir, a empresa começará a estudar a possibilidade de distribuir gás para postos em Campinas e em São José dos Campos. De acordo com as previsões da companhia, o lucro com a operação deverá vir no próximo ano. Mas ainda vai levar algum tempo para que os acionistas possam ver o retorno de seus investimentos. Prieto revela que a British e a Shell estão ansiosas, mas que não se arrependem um minuto sequer do ágio de quase 120% pago pela estatal. ?A Comgás é um investimento de risco e de longo prazo, mas nosso potencial de crescimento é enorme?, conclui.