A fala do prefeito Bruno Covas (PSDB) de que estabelecimentos comerciais não devem retornar à atividade exatamente no dia 1º de junho pegou de surpresa representantes de comércios e serviços na cidade de São Paulo. Para entidades de classe, a exigência da Prefeitura para que cada setor apresente um protocolo de segurança contra o coronavírus – que ainda precisará passar por análise e aprovação antes de as lojas voltarem a funcionar – vai “burocratizar” o processo e consequentemente atrasar a retomada econômica.

“Recebemos um sinal trocado. Em um dia, o governador fala que a vida recomeçaria na segunda, mesmo com algumas restrições. No dia seguinte, o prefeito fala outra coisa”, afirma Francisco de la Tôrre, vice-presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP).

“Já existiam protocolos de serviços essenciais que continuaram funcionando, como farmácias e supermercados. Por que apresentar uma nova solução?”, indaga. Segundo afirma, a Fecomercio-SP quer que a gestão municipal aceite uma proposta única para todo setor varejista e consiga fazer a análise já na segunda-feira.

“Há centenas de entidades representativas dos setores. Se cada uma apresentar um protocolo, a Prefeitura não tem estrutura para analisar tudo.”

Presidente da Associação Comercial de São Paulo, Alfredo Cotait também demonstra preocupação com a possibilidade de a gestão Covas demorar para avaliar as propostas e diz ter notícia de “grande quantidade” de empresas que “não sobreviveram ao período da pandemia”, mas ainda sem estimativa do número. “Agora, também preocupa quantas vão conseguir sobreviver à retomada, porque não é instantâneo.”

Shopping

“A gente sabe que a burocracia no Brasil é muito lenta, então possivelmente podemos ter demora para reabrir. É uma pena, porque o setor já está extremamente afetado com 70 dias de fechamento”, afirma Nabil Sahyoun, presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop). Com a exigência da Prefeitura, ele projeta que comércios em shopping só voltem a funcionar mesmo a partir da próxima semana.

Shoppings e comércios de rua na fase 2, laranja (como é o caso da capital), só poderão operar com 20% da capacidade e com horário de funcionamento de quatro horas por dia. Para Sahyoun, contudo, a regra estabelecida deixa o empresário em dúvida se realmente vale a pena retomar a atividade. “Há uma série de custos, desde aluguel do espaço, conta de energia, transporte e alimentação dos colaboradores. Muitos empresários estão analisando e dizendo que não vai compensar.”

Segundo afirma, o setor vai tentar renegociar a medida. “Se não houver essa elasticidade no horário, aí é natural que acabe gerando algum tipo de congestionamento.” Em nota, a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) diz que “os estabelecimentos de São Paulo estão preparados para voltar a funcionar a partir do dia 1º de junho, nas regiões liberadas”.

Segundo a entidade, já teria sido criado um protocolo de recomendações, com consultoria do Hospital Sírio-Libanês, para orientar a reabertura.

Sem perspectiva de reabertura na capital, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel-SP) manifestou inconformismo” e pediu revisão do cronograma – os bares ficaram para a fase 3 de flexibilização. “Não entendemos por que fomos excluídos se também nos comprometemos a seguir o protocolo de segurança”, disse o presidente da Abrasel, Percival Maricato.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.