A audiência de Bowe Begdahl, o militar americano que pode pegar prisão perpétua por deserção após ser mantido em cativeiro por insurgentes afegãos durante cinco anos, começou nesta segunda-feira (23) em meio a acusações de que o presidente Donald Trump prejudicou o julgamento.

Bowe Bergdahl, de 31 anos, foi visto chegando ao tribunal militar em Fort Bragg, na Carolina do Norte, uma semana depois de se declarar culpado das acusações de deserção e de colocar em risco seus colegas de tropa.

A audiência acabou depois que o juiz, o coronel do Exército Jeffery Nance, ouviu uma moção do advogado de Bergdahl de que os ataques de Trump contra ele poderiam significar que não receberá uma sentença justa.

Nance irá rever a moção e informará a sentença quando a audiência for retomada na quarta-feira.

Não há indícios de como o tribunal irá tratar Bergdahl, que ganhou sua liberdade em uma troca de prisioneiros em 2014 com o Talibã, após ser sequestrado pelo grupo Haqqani, aliado dos talibãs no Paquistão.

Sua declaração de culpa não é parte de um acordo de sentença, deixando Nance livre para decidir sua condenação.

A acusação de deserção tem a pena máxima de cinco anos de prisão, mas a de deixar os seus colegas de tropa em perigo, também conhecida como “má conduta frente o inimigo”, pode significar prisão perpétua.

Também deve ser ouvido o depoimento de dois soldados feridos nas missões para encontrá-lo e libertá-lo.

Mas Bergdahl pode ser libertado se o juiz aceitar sua explicação de que deixou seu posto no Afeganistão em 2009 em uma tentativa equivocada de relatar problemas internos em sua unidade a superiores de outra base.

Também poderia ser influenciado pelo depoimento do chefe da investigação do Exército, o major-general Kenneth Dahl, de que Bergdahl estava tendo alucinações.

O caso ganhou uma dimensão política depois que o ex-presidente Barack Obama concordou em trocar cinco prisioneiros talibãs por Bergdahl em 2014, gesto que foi muito criticado por republicanos e militares que o viam como um traidor.

Durante as presidenciais de 2016, Trump sugeriu repetidamente que Bergdahl deveria ser executado e, após vencer a eleição, prometeu rever o caso, chamando-o de “um traidor sujo e podre”.

Argumentado que Trump prejudicou a audiência, os advogados de defesa citaram os comentários do presidente na semana passada.

Questionado sobre suas declarações a respeito de Bergdahl, Trump respondeu: “acho que as pessoas ouviram meus comentários anteriormente”.

“O presidente Trump está no topo de uma cadeia de comando que inclui participantes-chave nas etapas críticas restantes do caso”, disse a defesa.

Assim, os seus comentários levantam “dúvidas substanciais quanto à equidade do processo”.