Os combates no leste da Ucrânia atingiram sua “intensidade máxima” nesta quinta-feira (26), segundo as autoridades ucranianas, que continuam exigindo insistentemente o envio de mais armas dos países ocidentais para combater o poderio militar da Rússia.

As tropas russas, que invadiram a Ucrânia em 24 de fevereiro, concentram atualmente a sua ofensiva no leste, após o fracasso de sua tentativa de tomar a capital, Kiev.

“Os combates alcançaram sua intensidade máxima e temos diante de nós um período longo e extremamente difícil”, declarou à imprensa a vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Malyar.

Concretamente, o exército russo tenta assumir o controle da cidade de Severodonetsk, que tinha cerca de 100.000 habitantes antes da guerra.

A localidade é chave para que a Rússia controle totalmente o Donbass, uma bacia mineradora parcialmente ocupada desde 2014 por separatistas apoiados por Moscou.

“Algumas cidades e vilarejos não existem mais” nessa região, que está sob forte bombardeio há dias, disse o ministro de Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba, no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça.

“Foram reduzidas a ruínas pela artilharia russa, pelos sistemas russos de foguetes de lançamento múltiplo”, disse o ministro, acrescentando que esse é precisamente o armamento que seu país precisa agora.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reforçou o pedido, lembrando que as tropas russas eram claramente superiores em “termos de equipamentos e número de soldados”.

Por sua vez, a responsável pela diplomacia britânica, Liz Truss, advertiu contra qualquer tentação de “oferecer um compromisso ou [iniciativas de] apaziguamento” ao presidente russo, Vladimir Putin.

“Temos que garantir a derrota de Putin na Ucrânia […], que uma agressão russa jamais ameaçará novamente a paz na Europa”, disse Truss durante visita à Bósnia.

Já o chefe de governo da Alemanha, Olaf Scholz, destacou que a Rússia “não conseguiu seus objetivos estratégicos” na Ucrânia e acrescentou: Putin “não deve ganhar sua guerra. E estou convencido: ele não vai ganhar”.

– ‘Saber que não estamos sozinhos’ –

Desde o início da invasão russa, mais de 8 milhões de ucranianos se tornaram deslocados internos e outros 6 milhões fugiram do país, que tinha 37 milhões de habitantes nos territórios controlados por Kiev.

Os países-membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) condenaram, por ampla maioria, a invasão russa e os bombardeios de hospitais e instalações médicas na Ucrânia.

Segundo a OMS, foram registrados 256 ataques contra o serviço de saúde da Ucrânia desde o início da invasão. Destes, foram utilizadas armas pesadas em 212.

Na região de Luhansk, uma das que formam o Donbass junto com Donetsk, as cidades na linha de frente ficaram sem seus habitantes e os que permanecem, muitos deles idosos, passam a maior parte do tempo abrigados em porões.

Como na cidade de Soledar, a dezenas de quilômetros de Severodonetsk, onde Natalia, de 47 anos, saiu às ruas “apenas para ver gente”.

“Precisamos saber que não estamos sozinhos e que ainda existe vida por aqui”, declarou.

Na cidade vizinha de Lysychansk, a polícia assumiu o controle do serviço funerário para enterrar os mortos, disse o governador de Luhansk, Serhiy Haiday. Pelo menos 150 pessoas tiveram que ser sepultadas em uma vala comum, acrescentou.

Segundo a presidência ucraniana, nas últimas 24 horas, pelo menos três pessoas morreram nesta cidade da região de Luhansk e outros quatro civis em Donetsk.

A governador informou no aplicativo Telegram que todas as forças russas estavam posicionadas na região, o que tornou a situação “extremamente difícil”.

Em Kharkiv, no nordeste, sete pessoas foram mortas em novos bombardeios, e no sul, perto de Mikolayv, mais dois civis morreram nos combates.

“Os países que hesitam no fornecimento de armas pesadas para a Ucrânia devem entender que, a cada dia que passam decidindo, ponderando diferentes argumentos, há gente morrendo”, insistiu Kuleba em Davos.

– Rússia acusa Ocidente –

A guerra entre dois grandes exportadores de grãos, que produzem um terço do trigo mundial, provoca preocupação pelo risco de uma crise alimentar.

Kuleba informou que há conversas entre Kiev e a ONU sobre a possibilidade de criar uma passagem segura a partir do porto de Odessa, mas a Rússia nega que haja um bloqueio aos portos do país e atribui a situação a “medidas ilegais” adotadas pelos países ocidentais.

Putin afirmou hoje, em conversa com o primeiro-ministro italiano Mario Draghi, que a Rússia “está disposta a aportar uma contribuição significativa para superar a crise alimentar”, com a condição de que o Ocidente levante as sanções que lhe foram impostas “por motivações políticas”.

Os países ocidentais “devem anular essas decisões ilegais que dificultam o afretamento de navios e as exportações de grãos”, disse, por sua vez, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

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